"A linguagem de Deus"
Fotos retiradas da net
De Frei Bento, claro
Guerra e paz entre ciência e religião-Bento Domingues O.P.
É possível evitar a agressão e a ignorância recíprocas entre ciência e religião
1."Uma das grandes tragédias do nosso tempo é a impressão que se criou de que ciência e religião devem estar em guerra." Esta estridente afirmação parece recortada da literatura apocalíptica. Pertence, no entanto, a Francis S. Collins, físico, médico geneticista e director do National Human Genome Research Institute (NIH), autor de um tecido de paz entre ciência, religião e ética, num livro muito belo para umas férias de sabedoria (1).
Hoje, toda a gente sabe que o genoma humano é composto por todo o ADN da nossa espécie, o código hereditário da vida. Esse texto, recentemente revelado, tinha mais de três mil milhões de letras e estava escrito num código estranho e criptográfico de quatro letras. A surpreendente complexidade da informação contida em cada célula do corpo humano é tal que uma leitura efectiva desse código, ao ritmo de uma letra por segundo, levaria trinta e um anos, ainda que se realizasse dia e noite sem parar.
A impressão desses caracteres em papel comum, num tipo de letra normal com tamanho regular, e a junção de todas as folhas resultariam numa torre com a altura do monumento a Washington.
Quem o diz é o mesmo Francis S. Collins, responsável pelo Projecto do Genoma Humano a nível internacional, que, durante mais de uma década, se esforçara por revelar essa sequência de ADN, coordenando mais de dois mil cientistas que conseguiram esse feito notável. No seu entender, será encarado, daqui a mil anos, como uma das maiores realizações da humanidade.
2. O que terá a religião a ver com isto? Aparentemente, nada. No entanto, Collins, que trabalhou com o redactor do discurso pronunciado por Bill Clinton, a 26 de Junho de 2000, para "anunciar a conclusão do primeiro esboço de um manual de instruções para seres humanos", defendeu energicamente a inclusão do seguinte parágrafo: "Hoje em dia, estamos a aprender a linguagem na qual Deus criou a vida. Sentimos uma reverência cada vez maior pela complexidade, pela beleza e pelo prodígio da dádiva mais divina e sagrada de Deus."
Quando coube ao cientista a vez de proferir algumas palavras, assumiu explicitamente esse sentimento: "É um dia feliz para o mundo. A percepção de que vislumbramos, pela primeira vez, o nosso manual de instruções, anteriormente só conhecido de Deus, torna-me humilde e inspira-me reverência."
Ao anunciar um marco nas áreas da biologia e da medicina, não será um abuso esta invocação? Não serão antitéticas as concepções científicas e espirituais do mundo? Não deveriam, Bill Clinton e o cientista, ter evitado que elas aparecessem juntas?
A resposta de Francis Collins é simples: "Para mim, a experiência de sequenciar o genoma humano e de revelar o mais notável de todos os textos constituiu um feito científico espantoso e, simultaneamente, uma ocasião de culto."
3. Divulgou-se a ideia de que um cientista rigoroso não pode, ao mesmo tempo, acreditar seriamente num Deus transcendente. O director do NIH escreveu uma obra para mostrar que a crença em Deus pode ser uma escolha inteiramente racional e que os princípios da fé complementam, de facto, os princípios da ciência.
Sabe que são muitas as pessoas que julgam isso impossível. No entanto, as sondagens confirmam que 93 por cento dos norte-americanos professam algum tipo de crença em Deus. E entre os cientistas? Neste momento, é mais prevalecente do que se imagina.
Em 1916, investigadores perguntaram a biólogos, físicos e matemáticos se acreditavam num Deus que comunica activamente com a humanidade. Cerca de 40 por cento responderam afirmativamente. Em 1997, a pesquisa foi repetida na íntegra e, para surpresa dos investigadores, a percentagem mantinha-se praticamente igual.
Deste resultado, Collins não concluiu que a "batalha" entre ciência e religião não esteja ferozmente polarizada. Ao lançar o descrédito sobre as crenças espirituais de 40 por cento dos seus colegas, considerando-as pieguices absurdas, o proeminente evolucionista Richard Dawkins, por exemplo, destacou-se como principal porta-voz do ponto de vista segundo o qual uma crença na evolução implica o ateísmo.
Por outro lado, alguns fundamentalistas religiosos atacam a ciência, considerando-a perigosa e indigna de confiança, apontando para uma interpretação literal dos textos sagrados como único meio fidedigno de discernir a verdade científica. Um dirigente do movimento criacionista, H. R. Morris, afirmou: "Quando a ciência e a Bíblia diferem, é porque a ciência, obviamente, se enganou a interpretar os seus dados." Para o biólogo Stephen Jay Gould, ciência e fé deviam ocupar "magistérios" não sobrepostos, separados.
F. S. Collins, convertido aos 27 anos, com o seu livro, A Linguagem de Deus, vem abrir corredores de paz: nem confusão, nem agressão mútua entre ciência e religião, nem ignorância recíproca. Ele sente-se bem ao ser um cientista rigoroso e ao pegar na viola para cantar a alegria da fé. Boas férias e até Setembro.
(I) Francis. S. Collins, A Linguagem de Deus, Lisboa, Presença, 2007.
In jornal Público
"A linguagem de Deus
A linguagem de Deus de Francis S. Collins da Editorial Presença
Como surgiu o universo? Qual o significado da existência humana? Eis algumas das questões que desde há muito inquietam a nossa mente. Na tentativa de encontrar respostas satisfatórias, religião e ciência têm-se degladiado numa batalha que as coloca em posições antagónicas e que é para Francis Collins, o autor deste livro, absolutamente insensata.
Na sua perspectiva de cientista altamente rigoroso e de crente honesto, Collins defende a complementaridade das concepções científica e espiritual como sendo a via mais equilibrada para desvendar o mistério da vida e do universo. E é justamente aí que reside o objectivo desta obra – explorar essa via de integração privilegiada com toda a seriedade intelectual. Uma leitura imprescindível para todos os crentes, agnósticos e ateus que se interrogam sobre as questões fundamentais da existência e desejam aprofundar a sua reflexão sobre elas."
A linguagem de Deus de Francis S. Collins da Editorial Presença
Como surgiu o universo? Qual o significado da existência humana? Eis algumas das questões que desde há muito inquietam a nossa mente. Na tentativa de encontrar respostas satisfatórias, religião e ciência têm-se degladiado numa batalha que as coloca em posições antagónicas e que é para Francis Collins, o autor deste livro, absolutamente insensata.
Na sua perspectiva de cientista altamente rigoroso e de crente honesto, Collins defende a complementaridade das concepções científica e espiritual como sendo a via mais equilibrada para desvendar o mistério da vida e do universo. E é justamente aí que reside o objectivo desta obra – explorar essa via de integração privilegiada com toda a seriedade intelectual. Uma leitura imprescindível para todos os crentes, agnósticos e ateus que se interrogam sobre as questões fundamentais da existência e desejam aprofundar a sua reflexão sobre elas."
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