quarta-feira, 26 de março de 2008

Caíu-lhe em cima a maldição da cruz!



Tomo a liberdade de transcrever crónicas editadas pelo Jornal Diário on-line dos Açores



Cipriano Pacheco



Caíu-lhe em cima a maldição da cruz!



O autor do quarto evangelho diz que Jesus “veio para o que era seu”, mas, ao contrário do que seria de esperar, “os seus não o receberam”.Que assim foi, aí está o próximo Domingo de Ramos com as celebrações da Semana Santa, a fazerem a memória do acontecido. Na verdade, Jesus acaba condenado e crucificado na condição de um “maldito”, nos termos da religião do seu tempo. É caso para perguntar: - O que esperavam “os seus” para não o receberem?É que, pelos vistos, “o que veio” não era aquele que eles esperavam. Sabe-se que esperavam “o Messias”, mas, tudo leva a crer que “o que veio” não correspondia ao perfil messiânico que “os seus” tinham nas suas cabeças.Ao que parece, esperavam um Messias ao jeito dos poderosos do mundo, como Alguém que se impusesse pela força, cavalgando os trilhos do poder, qual espécie de monarca com trono e tudo, incluíndo exército às suas ordens para se defender. Afinal, deparam-se com uma figura humana despojada, apenas com a força da sua palavra e dos seus gestos, a força da Verdade contra as imposições dos que se apoderaram da Lei de Moisés para impor o seu poder.Se calhar, esperavam um Messias implacável, duro de coração, muito determinado, como agora se diz, a impor os seus caminhos contra tudo e contra todos. No entanto, confrontam-se com alguém para quem a fidelidade não se opõe a liberdade. Alguém capaz de ternura, compaixão e misericórdia sem medida.Fica-se com a impressão de que esperavam um Messias absolutamente separado do mundo dos impuros, dos pecadores, alguém intocável, completamente isento de impurezas rituais, imperturbável e insensível. Mas, o que vêem em Jesus é alguém que se cruza nos caminhos da Palestina com toda a espécie de gente, desde cumpridores rigoristas da Lei até pecadores e pecadoras, a quem convida e com quem se senta à mesa, libertando os que se lhe apresentam abatidos ou oprimidos, deixando-se tocar pelos que lhe suplicam, sejam judeus ou pagãos.Se, na verdade, esperavam um Messias que viesse legitimar a superioridade e a imposição aos outros povos do particularismo judaico, bem como a supremacia religiosa bem expressa no culto centrado no Templo de Jerusalém, enganaram-se. O que vêem Jesus advogar é um Templo que seja “casa de oração para todos os povos”. Vêem que Jesus fala de um Deus diferente e novo, para o qual “amar a Deus acima de tudo e ao próximo como a si mesmo, vale mais que todos os holocaustos e sacrifícios”. E, como se não bastasse, leva à relativização do Templo ao ponto de dizer que os “adoradores que o Pai deseja” são aqueles que “o adoram em espírito e verdade”.Como se pode ver, Jesus com um tal perfil de Messias não podia acabar senão na cruz.

1 comentário:

Anónimo disse...

intiresno muito, obrigado