Um perfil de pastor que valia a pena seguir
Mais uma vez faço minhas as palavras de Cipriano Pacheco, Vigário Episcopal em S Miguel
imagem retirada da net
"Num mundo como o actual, em que cada pessoa aspira à sua liberdade e em que cada qual deseja o seu desenvolvimento pessoal, a imagem bíblica de “Pastor” e de “rebanho”, de que falou o “domingo do Bom Pastor”, corre o risco de ser vista como desadequada ou mal entendida. Não falta quem tenha dificuldade em rever-se na imagem de um “rebanho”, como se tivesse apenas de deixar-se conduzir sem exercer a sua própria liberdade.
A verdade é que, na tradução bíblica, os reis e dirigentes eram comparados a pastores. E, no tempo de Jesus, trata-se de uma missão importante e, por vezes, perigosa. Cabe ao pastor vigiar e cuidar do rebanho, mesmo com o risco da própria vida. É nesta perspectiva que se entende o recurso que o evangelista faz à imagem do “pastor” e do “rebanho” para, numa parábola, a aplicar a Jesus. Mas, neste caso, enriquecendo-a com elementos novos, de modo a pôr em evidência a novidade de um tipo de relação qualitativamente diferente de testemunhadas por Jesus e a vigorar entre os seus seguidores.
Assim, o relacionamento instaurado entre Jesus e os que estão ao seu cuidado não é marcado pelo interesse, ou consciência pessoal, mas pelo amor. Por aqui passa a diferença entre o “Bom Pastor” e o “pastor-mercenário”. O primeiro conhece cada um dos seus e é conhecido por eles, enquanto o segundo desconhece-os, limitando-se ao puro e frio exercício de uma função. Ora, sabendo nós que, em linguagem bíblica, o conhecimento implica amor, está tudo dito em termos de originalidade do relacionamento cristão. Diante do risco ou do perigo, quando está em causa a defesa da humanidade, objecto do seu amor, Jesus não foje, dispondo-se mesmo a “dar a própria vida”, ao contrário do que é próprio de um “mercenário”.
Deste modo, a beleza de Jesus como Pastor deixa um “aviso” para a igreja, enquanto “redil” onde se reúnem os seguidores da mensagem de Jesus. Sendo a Igreja o espaço onde tanto se fala de “pastoral”, impõe-se que, no exercício de uma tal vocação e missão, ela se reveja ao espelho do perfil pastoral de Jesus, definindo-se como comunidade centrada à volta de Jesus e da escuta da sua Palavra, como condição para se deixar conduzir por Ele. Pode dizer-se que o perfil pastoral de Jesus deixa duas indicações claras à comunidade eclesial. Uma indicação aponta para a qualidade do relacionamento a existir no interior da comunidade cristã constituída e que deve distinguir-se pelo conhecimento mútuo, marcado pela proximidade própria do amor e da ternura. Outra indicação aponta para a abertura da comunidade constituída ou da Igreja, capaz de “sair” para fora de si mesma, ou do seu “redil”, não se fechando sobre si própria, pensando ter o exclusivo domínio do “rebanho” do Pastor e dos seus limites. É que, como diz o próprio Jesus, há muitos mais que, não estando no “redil”, são igualmente, pertença do Pastor, cabendo à comunidade cristã e eclesial ir ao seu encontro, criando condições para que, mesmo fora do “redil”, ouçam a voz do Pastor e “se deixem conduzir por Ele”.
Ao contrário de uma “seita”, uma verdadeira Igreja abre-se ao mundomediante um amor não restritivo, antes, aberto a todos, judeus ou pagãos, católicos ou protestantes, praticantes ou não praticantes, tanto justos como pecadores. O desígnio pastoral de Jesusé o de que, seja lá quem for, “ninguém se perca”."
Jornal Diário 2009-05-04 09:45:00
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