terça-feira, 1 de abril de 2008

Haverá sempre um desconhecido a caminhar ao nosso lado?




Haverá sempre um desconhecido a caminhar ao nosso lado?


Parece ser essa a fé ou a sorte dos cristãos. Para aí aponta a experiência dos dois discípulos de Jesus que se dirigiam em direcção à aldeia de Emaús, após os acontecimentos relacionados com a trágica morte de Jesus.Aqueles dois caminham profundamente desiludidos. São eles que o dizem: “Nós esperávamos que fosse Ele...” Mas, pelo que se vê, para eles, tudo se acabou. A vida como que perdeu sentido. Nada lhes resta senão voltar para casa.É no meio do seu abatimento que o Ressuscitado, qual Desconhecido, se aproxima daqueles dois caminhantes. Todavia, aquele Jesus que tinham conhecido e que se fazia particularmente próximo dos que andavam oprimidos e cansados, dos pobres, dos pequenos e até dos pecadores, era, para eles, um assunto do passado. Não podiam imaginar que aquele Desconhecido que os interpela no caminho, pudesse ser Jesus Ressuscitado a aproximar-se deles, precisamente, quando “caminhavam abatidos” e sem esperança. Era caso para dizer que se tinham esquecido do aviso de João Baptista: “Está Alguém no meio de vós, que vós não conheceis!” É uma presunção que parece aplicar-se bem ao Ressuscitado.Afinal, vai ser só quando Aquele Companheiro de viagem explica aos dois peregrinos de Emaús aquilo que aconteceu, à luz das Escrituras e aceita entrar em casa deles, pondo-se à mesa com eles e procedendo à fracção do pão, que aqueles dois caminhantes vão reconhecer n'Aquele Desconhecido, a presença do Ressuscitado. É certo que não vão poder apoderar-se daquela presença porque o Ressuscitado não se deixa ficar sob o seu controlo ou sob o seu domínio. Mas ganham alma nova e força para “voltar para Jerusalém” levando a todos a alegre mensagem da presença de Jesus Cristo Vivo no coração da vida humana e no coração dos crentes.Perante tudo isto, é legítima a questão: Onde encontrar, hoje, o Ressuscitado?São-nos deixadas algumas referências a saber: No confronto com os acontecimentos, mesmo os mais decepcionantes e perturbadores da existência humana. No esforço de os entender à luz de uma compreensão da Palavra de Deus ou das Escrituras e no gesto eucarístico do partir do pão. São estes os lugares a partir dos quais os discípulos de Jesus Cristo devem sentir-se enviados a testemunhar benevolência, atenção, solidariedade, prática orante e promoção da dignidade, de modo a que, mediante uma existência conduzida segundo o Evangelho, tornem visível, na medida do possível, o Rosto do Ressuscitado no meio dos seus contemporâneos.

2008-03-31

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