terça-feira, 8 de abril de 2008

Do acontecimento pascal ao encontro dominical


Do acontecimento pascal ao encontro dominical


Como dizia um comentador da Liturgia dominical, tempos houve em que era necessário ter coragem para não ir à missa ao domingo. Hoje, ao que parece, é preciso ter alguma coragem para lá ir! O encontro dominical aqui em questão – a celebração eucarística – foi inaugurado por Jesus com os seus discípulos. O Ressuscitado da manhã de Páscoa apareceu-lhes no “primeiro dia da semana”. Ora, oito dias depois, os mesmos discípulos encontravam-se, de novo, em casa, quando Jesus se veio colocar no meio deles. Daí por diante, os Apóstolos e, com eles, a primeira comunidade cristã mantiveram-se fiéis a este encontro com Jesus vivo, em cada primeiro dia da semana, a partir daí designado como “Dia do Senhor”. De facto, diz-se dos primeiros cristãos que “eram assíduos à escuta da Palavra, à comunhão fraterna, à fracção do pão e às orações”. Verdade seja que esta assiduidade não parece ter sido sempre fácil, pois que o autor da Carta aos Hebreus avisa os seus leitores: “Não deserteis da vossa assembleia como alguns têm o costume de fazer”. Eis um problema que não parece ser só de hoje! Ao participarem no encontro eucarístico dominical, os cristãos inserem-se numa corrente que vem de há dois mil anos e que tem a sua origem no próprio Jesus Cristo, o Ressuscitado, ou seja, Aquele Jesus, conhecido como Homem pelos discípulos, mas sobre o qual, o incrédulo Tomé, por estranho que pareça, faz a primeira confissão de fé, afirmando Jesus Ressuscitado seu Deus! Isto mesmo é o que faz a Eucaristia dominical ao proclamar o mistério da fé cristã, permitindo aos participantes aprofundarem o desejo de uma cada vez maior união Àquele que tendo sido morto, vive para sempre. Para o padre Michel Scouarnec, com obra feita no domínio da música litúrgica, um desafio pascal relacionado com o encontro eucarístico dominical tem a ver com a descoberta pelos cristãos do gosto da fé como realidade que tem sabor e um sabor comunicativo. Para o efeito, em sua opinião, isso passaria por gostar de estar em conjunto e aprender a saborear os textos do Evangelho de cada domingo. Em segundo lugar, por uma adaptação da Liturgia a circunstâncias diversas e, por fim, pela qualidade do canto litúrgico inspirado na Palavra de Deus traduzida em metáforas capazes de lhe darem força e vigor comunicativo, na certeza de que não se pode cantar Deus dizendo seja o que for ou em música sem qualquer qualidade. É uma condição para que o canto se torne lugar de dicção de Deus, fonte de prazer e de alegria.


In Jornal Diário
2008-04-07 02:15:00

1 comentário:

Rui Melgão disse...

Vivemos cada vez mais cépticamente, os avanços da Ciência e tantas outras coisas gritam mais alto e tornam-nos Tomés, descrentes... Senhor que eu não perca este dom de te reconhecer na Eucaristia...