quinta-feira, 4 de setembro de 2008

Vós me seduziste



Do conjunto das Leituras e Evangelho do passado Domingo foi exactamente a primeira leitura que mais me calou fundo na alma.

Jer 20,7-9

Vós me seduzistes, Senhor, e eu deixei-me seduzir;
Vós me dominastes e vencestes.
Em todo o tempo sou objecto de escárnio,
toda a gente se ri de mim;
porque sempre que falo é para gritar e proclamar:
«Violência e ruína!»
E a palavra do Senhor tornou-se para mim
ocasião permanente de insultos e zombarias.
Então eu disse:
«Não voltarei a falar n’Ele,
não falarei mais em seu nome».
Mas havia no meu coração um fogo ardente,
comprimido dentro dos meus ossos.
Procurava contê-lo, mas não podia.

Fui eu a lê-la na nossa Eucaristia e acredita que me falhou a voz várias vezes. As diversas traduções da leitura usam, umas, a palavra sedução, outras a plavra cativar e ambas significam uma persistência, um trabalho contínuo de conquista do outro. Sim, o Pai não baixa os Seus braços no jogo amoroso com que nos quer seduzir e nós temos, apenas e só que nos abandonarmos confiantes de que só seremos felizes deixando-nos amar por esse amor louco com essa loucura com que só Ele sabe amar, loucura, sim, pois só quem ama loucamente se dá da forma como Deus Se dá dando o Seu filho unigénito, ÚNICO, para que aprendamos e vivamos o AMOR. Agora será que estaremos interessados em sermos amados e amarmos dessa forma? Será que nos abandonamos a esse amor? É que também não é fácil assumirmos uma paixão embaraçosa, uma paixão que nos exige, também, um amor sem limites ao OUTRO, ao vicioso, ao doente da alma e do corpo, áquele de quem desviamos o olhar e cuspimos no chão ou mesmo cuspimos no rosto como cuspiram no rosto do Ecce Homo. Somos tão frágeis, mas como Paulo/Saulo temos de ser fortes quando somos fracos e só "nEle poderá descansar a nossa alma". Que sintamos esta atracção e vamos mais longe e sintamos que nos é impossível não corresponder a esse amor apaixonado e digamos como Jeremias " havia no meu coração um fogo ardente, comprimido dentro dos meus ossos. Procurava contê-lo, mas não podia." e só assim poderemos fazer o que Paulo nos pede na Segunda leitura retirada da sua carta aos cristãos de Roma

"Peço-vos, irmãos, pela misericórdia de Deus,
que vos ofereçais a vós mesmos
como vítima santa, viva, agradável a Deus,
como culto racional.
Não vos conformeis com este mundo,
mas transformai-vos,
pela renovação espiritual da vossa mente,
para saberdes discernir, segundo a vontade de Deus,
o que é bom,
o que Lhe é agradável,
o que é perfeito.

E assim pegarmos na cruz e seguirmos o Mestre do Amor, sem reservas como Ele exige a Pedro.

Cativa-me Pai, seduz-me e que eu te ame sem limites nem reservas no OUTRO.


SALMO 62 (63)

Refrão:

A minha alma tem sede de Vós, meu Deus.
Senhor, sois o meu Deus: desde a aurora Vos procuro.
A minha alma tem sede de Vós.
Por Vós suspiro,
como terra árida, sequiosa, sem água.
Quero contemplar-Vos no santuário,
para ver o vosso poder e a vossa glória.
A vossa graça vale mais do que a vida;
por isso, os meus lábios hão-de cantar-Vos louvores.

Assim Vos bendirei toda a minha vida
e em vosso louvor levantarei as mãos.
Serei saciado com saborosos manjares,
e com vozes de júbilo Vos louvarei.

Porque Vos tornastes o meu refúgio,
exulto à sombra das vossas asas.
Unido a Vós estou, Senhor,
a vossa mão me serve de amparo.


Sugiro:http://www.agencia.ecclesia.pt/cal/54/default.asp?jornalid=54

Abraço fraterno

Ana