sábado, 11 de dezembro de 2010

terça-feira, 27 de julho de 2010

As sete pausas


Jesus, O Cristo, dádiva suprema do Pai a todos os Seus filhos, muitas vezes se afastou, se recolheu, para intimamente orar, conversar como Pai. De tal forma o fez que os Discípulos um dia lhe pediram: "Mestre, ensina-nos a rezar". Jesus com palavras simples falou-lhes do que seria chamado de Pai nosso. Para rezar não são precisas nem palavras difíceis, nem fórmulas complexas, apenas um coração que se abre a Deus, uma alma que se desnuda diante do Pai que nos acolhe e ama incondicionalmente. Orar pode ser pedir (batei e abri-se-vos-á, pedi e ser-vos-á dado), mostrar gratidão pelo que acontece na nossa vida, acção de graças, ou apenas ao olhar a natureza que nos rodeia e traz escondida a mão generosa de Deus sentirmos a paz que se sente diante das coisas belas.
Tolentino Mendonça, o autor dos textos das sete pausas é um poeta da beleza das coisas, da beleza do amor, da beleza de Deus
Abraço fraterno

sábado, 12 de junho de 2010

Armani


A foto é da minha autoria e os pés que calçam estes sapatos são de Tolentino Mendonça (Feira do Livro do Porto)

Há alguns anos disseram-me que certo monge meu conhecido calça Armani, fiquei confusa pensando nas sandálias do tal Pescador, no voto de pobreza e pensei que de facto a árvore não pode fazer a floresta, pois se fizesse nada faria sentido. Hoje li este poema. Quem o escreveu, Tolentino Mendonça, não calça Armani. A floresta que me acolhe calça sandálias, sapatos vulgares, coçados. Assim, sim, tudo faz sentido.


O SILÊNCIO
Regressamos a uma terra misteriosa
trazemos uma ferida
e o corpo ferido
imprevistamente nos volta
para margens mais remotas


Giorgio Armani tinha declarado
àquele jornal inglês: «o luxo desagrada-me,
é anti-democrático.
Quero agora homenagear os operários de todo o mundo»
Eu só pensava em São João da Cruz
enquanto ouvia pela enésima vez:
«a moda substituiu o luxo
pela elegância»


João da Cruz fala de coroas,
resplendores, casulas
véus de seda, relicários de ouro e
diamantes


para lá do jogo das nossas defesas
qualquer coisa interior
a intensa solidão das tempestades
os campos alagados,
os sítios sem resposta


o teu silêncio, ó Deus, altera por completo os espaços


(De A estrada branca)

segunda-feira, 10 de maio de 2010

A visita de Pedro


Imagem retirada da net: http://www.photographersdirect.com/buyers/stockphoto.asp?imageid=1908663

Mergulhada num vale embebido de verde, a aldeia das Furnas, nos Açores, é certamente uma das mais belas do mundo. Com o vulcão acordado dia e noite, anos a fio, águas quentes, frias e mornas, fontes abundantes e humildes, um lago sereníssimo a espelhar os cambiantes do céu, a embriaguês das flores na sua variedade estonteante, tudo num singular enquadramento de montanhas, outros tantos miradouros geradores de silêncio respeitoso e prolongado com olhares pasmados. O vale das Furnas tantas vezes descrito por tantos escritores portugueses e estrangeiros.

Todos os anos, a seguir à Páscoa, acontece uma procissão peculiar. A procissão dos enfermos. O Santís-simo percorre as ruas e visita as casas dos doentes que O não puderam receber. Mas nessa viagem há uma particularidade: um longo tapete das melhores flores e ramagens das Furnas, artisticamente colocadas em “formas” numa harmonia esplendorosa de cores. As pessoas dizem apenas: “É O Senhor que vai passar aqui. Ele merece o melhor”. De todas as festas da terra é a que tem menos ruído e dispersão. E o que se percebe é que aquele monumento de beleza não é um gesto de vaidade mas de amor pelo Senhor que passa.

Pedro, na pessoa do Papa, vem visitar-nos. A notícia anda por aí entre polémicas e afirmações de fé: há quem pense que há flores a mais, excesso de tempo, perda de rentabilidade, gastos excessivos em decorações, peregrinações e encontros que podem ser mais exibição que devoção.

Será para muitos, um alemão, um antigo prefeito, um líder, um chefe de Estado. Mas sabemos quem nos visita. Habituámo-nos, ao longo de milénios, a olhá-lo para além da humanidade, para o que ele significa, transporta e projecta nas nossas comunidades: continuidade apostólica, unidade da fé, elemento congregador da ecclesia, comunidade cristã. E assim como o povo das Furnas diz que por mais ninguém era capaz de estender um tapete de flores, também os católicos em Portugal de 2010 sabem que por mais ninguém fariam uma festa tão solene. É Pedro que nos visita.

António Rego

In Ecclésia http://www.agencia.ecclesia.pt/cgi-bin/noticia.pl?&id=79362

sexta-feira, 2 de abril de 2010

retiro na cidade - 41


A Palavra de Deus

“Estou crucificado com Cristo e já não sou eu que vivo, mas é Cristo que vive em mim. E a vida que agora tenho na carne, vivo-a na fé do Filho de Deus que me amou e a si mesmo se entregou por mim”
Carta de São Paulo aos Gálatas, Cap 2, vers 20

A Fé de Cristo, a morada do cristão

“Eu estou crucificado com Cristo”: apesar da primeira pessoa do singular, Paulo não pensa de forma alguma num favor que lhe estará reservado. Pois é verdadeiro que todo o cristão, quer dizer, todo o homem que, tendo dado a sua fé a Cristo, pode dizer: “é Cristo que vive em mim”. E o que vive ele em mim? A sua fé. Como reciprocamente, eu próprio vivo nesta fé. O Catecismo da minha infância colocava esta questão: “em que consiste a vida cristã?” Era preciso responder: “A vida de Cristo em mim”. Eu completo hoje dizendo que a fé cristã, é a fé de Cristo em mim. E não somente em mim mas em todos os baptizados. Estes são, com efeito, fraternalmente reunidos nesta fé do Filho de Deus como eles o seriam num Templo. Nesse Templo, que tem a forma de cruz, o acto de Jesus entregando-se ao Pai, o seu sacrifício, o seu grito: “Pai nas tuas mãos eu entrego o meu espírito”; torna-se acto de todos os seus irmãos, o sacrifício deles, o grito deles. Tanto e tão bem como no ano de 120, Inácio de Antioquia interrompeu a sua marcha para o martírio para escrever estas palavras aos cristãos de Esmirna: “Constatei que vos transformastes numa fé tão perfeitamente ajustada que ela não poderá nunca vacilar, é como se vós estivésseis colados carnalmente e espiritualmente à cruz de Jesus Cristo”.

Nós sabemo-lo demasiado bem: a nossa fé é uma planta tão frágil que ela não pode resistir a todas as intempéries. Ema necessita de um tutor no duplo sentido desta palavra. Este tutor é Jesus Cristo e a sua cruz.

quarta-feira, 31 de março de 2010

Retiro na cidade - 40


Foto tirada de: buscandosonhos.com.br

Foto tirada de: buscandosonhos.com.br

A Palavra de Deus
Meu Deus, meu Deus, porque me abandonaste
«Pai, nas tuas mãos entrego o meu espírito.»

Evangelhos segundo São Marcos, cap 15, vers 34 e segundo S. Lucas, Cap 23, Vers 46

Um salvamento bem sucedido

Hoje, Domingo de Ramos, fazemos memória da entrada de Jesus em Jerusalém, onde o espera uma multidão acenando alegremente com ramos de todos os tipos. Mas este triunfo fácil não é swenão o prenúncio de um triunfo infinitamente mais difícil do qual gostaria de vos mostrar que salva a humanidade inteira: o triunfo da cruz.

Na minha juventude, foi-me dado assistir a dois salvamentos. O primeiro teve êxito porque um mergulhador muito treinado pode aproximar-se a tempo do camarada que se afogava. Mas o segundo falhou. Foi em 1941. Sobre o glaciar de Vignemale, Alain tinha caído no fundo de uma fenda. Incólume, ele estava simplesmente preso entre duas paredes de gelo, mas a uma tal profundidade que não tínhamos corda suficientemente comprida para descer até ele. Apenas pudemos fazê-lo depois de termos ido buscar socorro a Gavarnie. Eles chegaram demasiadamente tarde. O frio tinha-o matado.

Repensando mais tarde nestes dois salvamentos, compreendi que se a nossa redenção é comparável a um salvamento bem sucedido, é precisamente porque no seu amor por nós, o Filho de Deus pôde descer a tempo ao mais profundo do nosso sofrimento humano.
Sabemo-lo bem: quando um grande sofrimento entra nas nossas vidas, nós colocamo-nos perguntas lancinantes: “Porquê? Porquê eu? porquê agora?” E o crente não é poupado por estas perguntas que apunhalam o coração. Podemos mesmo dizer que para ele a questão é ainda mais grave: se Deus existe, e se é bom, e se Ele é como dizemos todo-poderoso, então porquê? São precisamente todos estes “porquês” que estão como que agrupados no “porquê” do Filho de Deus feito homem: «Meu Deus, meu Deus, porque me abandonaste?».
Mas Jesus não se fica por aí. Não se contenta por fazer seus todos os nossos “porquês”. Tendo-os acolhido fraternalmente no seu, ele opõe-lhes com tanta doçura como firmeza, a fé perfeita que ele forjou para nós no cadinho da sua cruz e que se manifesta no segundo grito: «Pai, nas tuas mãos entrego o meu espírito.»
É preciso, com efeito, saber que se Jesus pôde passar do primeiro grito ao segundo, da sensação de ser abandonado pelo seu Pai, à alegria da criança que se lança nos seus braços, é ao preço de um terrível combate transformando em triunfo a primeira vitória já alcançada no deserto. «Se és filho de Deus, ordena a estas pedras que se transformem em pão!» «Se és o filho de Deus, desce, então, da tua cruz!» Ele tem a certeza de que Jesus o podia fazer, pois não seria um milagre mais espantoso do que a ressurreição de Lázaro. É igualmente certo que ele foi teve a tentação de fazê-lo, o instrumento do Tentador não sendo outro senão o terrível sofrimento e medo da morte. Mas, Filho de Deus, ele tinha um outro recurso, o que, nas suas zombarias, os sumo sacerdotes e os escribas lhe recordavam sem quererem: : «Confiou em Deus, pois disse: ‘Eu sou Filho de Deus; Ele que o livre agora, se se interessa por ele.» Ora, é forte (com a força) desta confiança, dessa fé, que, tendo enfrentado o Tentador até a última gota do seu sangue, ele provocou (suscitou?) pela sua morte a confissão do centurião romano: «Verdadeiramente, este homem era filho de Deus». Para o completo entendimento da cruz como vitória sobre o Tentador, devemos compreender que a impotência do Crucificado, ainda sendo tão dramática como a dos seus companheiros de suplício, difere delas num ponto essencial. Eles podem apenas sofrer, Ele apenas sofre renunciando a «salvar-se a si mesmo» e, portanto, «entregando-se» de forma contínua. E se Ele o faz, é, em parte, para não renegar à sua confiança filial e por outro lado, para não abandonar à sua triste sorte os homens que Ele fez seus irmãos. Esta recusa obstinada do milagre é portanto a vitória decisiva do duplo e único amor de Deus e do próximo, já que um milagre teria sido a vitória absoluta do “pecado".

Lemos nas Epístolas aos Hebreus que se Jesus é capaz se compadecer das nossas fraquezas, é porque ultrapassou sem pecar tentações mais terríveis do que as nossas. Dito isto, o autor tira disso a conclusão seguinte: «Aproximai-vos então com segurança do trono da graça (que é a Cruz), e aí vós aí encontrareis não só compaixão, mas ainda uma ajuda perfeitamente adequada.»

Ora para vos aproximardes desta cruz, acrescenta, ele, começai por comê-la com os olhos, sim, “passai pela prova que vos é proposta com os olhos fixos em Jesus" que, aceitando a sua cruz, forjou para vós uma fé absolutamente perfeita. E ao contemplar esta fé, dizei-vos que “vós ainda não resististes até ao sangue na luta contra o Pecado”. Confesso que quando me sinto ameaçado pelo desencorajamento, acontece-me muitas vezes salvar-me graças ao maravilhoso remédio que assim me é proposto. E pensando no festim que nos espera no Reino de Deus, acrescento que prolongando até à comunhão essa manducação com os olhos, consigo por vezes a comer a hóstia como um “gourmet” totalmente satisfeito.

A sua fé permitiu ao Filho de Deus ultrapassar a sensação de ser abandonado pelo seu Pai para reencontrar a alegria da criança que se lança nos seus braços. Mas desta vez, Jesus forjou esta fé ao preço do seu sangue só para transfundi-lo para todos os seus “irmãos”, dando-lhes assim o meio para que eles também consigam ultrapassar essa sensação de abandono.

Nota importante, esta tradução foi substancialmente melhorada por o meu amigo Marc A.
Traduzido de http://www.retraitedanslaville.org/

sábado, 27 de março de 2010

Retiro na cidade - 39


Imagem tirada da net
A palavra de Deus
Ninguém te condenou?
Evangelho segundo S João Cap 8, Vers 10

A boa notícia

A mulher adúltera fica só com Jesus. Os acusadores foram embora depois que a sua mentira foi descoberta; pela palavra do Senhor, a própria mulher está liberta da ameaça de lapidação. Mas o que quer dizer agora Aquele que se diz a Verdade? Qual será o seu julgamento acerca desta mulher e das faltas que ela cometeu?

Num dos seus sermões, o dominicano da idade média Tomás de Aquino pergunta-se qual é a diferença entre o homem e os animais. Talvez pensemos conhecer a resposta: a diferença principal seria a inteligência. Mas não. A diferença principal, dizia São Tomás, é a misericórdia. E porque o homem é criado à imagem de Deus, essa misericórdia tem a sua origem e encontra a sua plenitude nEle.

Esta misericórdia incarnou em Cristo. O Filho não faz mais do que perdoar à mulher. Dentro de alguns dias, na Sua Paixão, ele tomará o seu lugar e ele deixar-se-á condenar também por ela. O mistério da graça ultrapassa-nos. Será que ousaremos abrir-nos à misericórdia de Deus na nossa própria vida?

sexta-feira, 26 de março de 2010

Retiro na cidade - 38

Imagem tirada da net


A Palavra de Deus
ficou só Jesus e a mulher que estava no meio deles
Evangelho segundo São João, cap 8, Vers 9

As pedras que caem das mãos

Tendo ouvido a resposta de Cristo, os escribas e o fariseus são forçados a admitir que não são eles mesmos sem pecados face à mulher surpreendida em adultério. Eles deixam cair as pedras, quer dizer: deixam cair a sua intenção de a condenar.

Para nós este tempo de quaresma é um tempo para fazermos o mesmo. É um exercício mais fácil de ser dito do que de ser feito. Nós conseguimos talvez parar o nosso julgamento imediato sobre o outro (mesmo que isso seja muitas vezes um grande desafio…), mas conseguiremos abandonar o julgamento de nós mesmos?

O desprezo em relação a si mesmo é muitas vezes mais presente do que desejamos. Por outro lado, sendo filhos de Seus, somos convidados a ficarmos confiantes diante dele, como uma criança nos joelhos da sua mãe, segundo a imagem dos salmo 131.

Ousaremos nós substituir o julgamento pela compaixão para com nós próprios e apoiarmo-nos na confiança e no amor de Deus?


Traduzido de www.retraitedanslaville.org

quarta-feira, 24 de março de 2010

Retiro na cidade - 37

Romeiro de uma das Romarias Quaresmais que percorrem a Ilha de São Miguel
Foto de Ana Loura

A Palavra de Deus

«Aquele de entre vós que não tenha pecados atire a primeira pedra»
Evangelho segundo São João Cap 8, versículo 7


Converter o nosso olhar


Os escribas e os fariseus que acusavam a mulher adúltera não tinham previsto submeter a sua própria vida moral a um auto-discernimento. Por outro lado Jesus provoca-os a desviar o olhar das pessoas e dos acontecimentos exteriores para se confrontarem com o seu próprio interior, as suas consciências.


Na nossa vida diária, é fácil desculpabilizar-nos acusando quem nos rodeia. Nós sentimo-nos facilmente magoados, mas será que vemos as feridas que trazemos em nós?

Quando nos abrimos à misericórdia de Deus, isso inclui tudo que em nós tem necessidade dela.

O tempo de Quaresma é um tempo para nos abrirmos. O objectivo não é de fazer julgamentos a nós próprios, mas de tentarmos considerar a nossa vida com o mesmo olhar do Senhor, um olhar de misericórdia.

Traduzido de: http://www.retraitedanslaville.org/

retiro na cidade - 36



Foto de Ana Loura

A Palavra de Deus
5Moisés, na Lei, mandou-nos matar à pedrada tais mulheres»

Evangelho segundo São João Cap 8, Vers 5


Um silêncio que fala ao coração


Em vez de responder à pergunta que lhe fazem sobre a mulher adúltera, Jesus desvia-se da questão posta pelos escribas e fariseus e começa a escrever na terra. A sua resposta é uma não-resposta, a sua reacção é uma não-reacção. Nada mais existe senão o tempo que continua a correr. E é o tempo que fala, que se dirige ao coração dos fariseus e dos escribas, e que finalmente os faz abandonar o seu projecto. O tempo torna-se na voz de Deus.


Podemos considerar este momento da história da mulher adúltera como o pivô do texto à volta do qual tudo roda, como o centro onde tudo se transforma. Pois é durante esse momento de silêncio que os escribas e os fariseus deixam cair as suas acusações. É nesse instante que a mulher é resgatada. E mais profundamente: é neste momento de silêncio que Deus converte os seus corações.


Quando Pedro, na sua segunda carta, exorta os fieis a levar uma vida segundo a sua fé, compreendemos que a paciência é a virtude que conduz ao temor de Deus, ao amor fraterno, e enfim ao amor de todos. A paciência é então ligada ao tempo, e o tempo não é um espaço vazio, sem qualquer sentido, que nós voltaríamos a preencher: o tempo é criado por Deus, e Ele utiliza-o para nos atrair para Ele, para nos fazer crescer como seres humanos e como crentes. Ousaremos a apoiarmo-nos com paciência neste dom de Deus. Ousaremos a escutar o silêncio de Deus?


Retiro na cidade - 35



Foto de Ana Loura
A palavra de Deus
E Tu que dizes?»
Evangelho segundo São João, Cap 8, versículo 5

Fazer perguntas a Deus

Os Fariseus e os escribas vindos com uma mulher apanhada em flagrante a cometer adultério colocam uma questão que pede como resposta um sim ou um não. Assim eles impõem as suas condições: nos seus pensamentos existe apenas duas possibilidades. Mas a resposta de Cristo via perturbá-los e deslocá-los.

Ao procurar Deus nas nossas vidas, nós temos também o direito de colocarmos questões, de pedirmos respostas. Na Bíblia, e particularmente nos salmos, vemos bem que questionar Deus não é apenas um direito, mas uma necessidade para entrarmos na verdadeira relação com Ele. É preciso antes de tudo que façamos perguntas, que nos confrontemos com Deus, que inclusivamente lhe atiremos os nossos gritos.
Mas é preciso que a seguir aceitemos ser postos em causa pelas Suas respostas, que nem sempre é aquela que esperamos. Esta segunda etapa é também importante, também decisiva. O que será mais difícil para nós: fazer perguntas ou estarmos abertos às respostas?

terça-feira, 23 de março de 2010

Retiro na cidade - 34


Foto de Ana Loura

A Palavra de Deus
5Moisés, na Lei, mandou-nos matar à pedrada tais mulheres.
Evangelho segundo São João, Cap 8, versículo 5

Uma lei para a salvação dos homens


Esta cena desenrola-se no Templo onde Jesus, sentado no chão, ensina o povo. Esse ensino através da palavra em breve será posto em prática quando os chefes dos judeus tentarem armar uma cilada a Jesus. Vindos com uma mulher surpreendida em adultério, os escribas e os fariseus procuram um apoio na lei para a condenar; eles vão buscar os seus argumentos à autoridade de Moisés. Eles talvez queiram a justiça, mas mais ainda, eles procuram pôr Jesus à prova.

Mas será que eles compreenderam a verdadeira razão da lei: a santidade, a compaixão e a caridade? Serão estes os valores que motivam as suas diligências? As suas reacções face à resposta de Jesus revelam os seus verdadeiros motivos, pois Cristo não faz referência à lei no seu sentido jurídico, mas à lei que está inscrita nos coração do homem.

segunda-feira, 22 de março de 2010

Retiro na cidade - 33


A Palavra de Deus
Assim como a chuva e a neve descem do céu, e não voltam mais para lá, senão depois de empapar a terra, de a fecundar e fazer germinar, para que dê semente ao semea¬dor e pão para comer, 11o mesmo sucede à palavra que sai da minha boca: não voltará para mim vazia, sem ter realizado a minha von¬tade e sem cumprir a sua missão. 12Sim, saireis radiantes de alegria, e sereis reconduzidos em paz à vossa casa.
Livro de Isaías, cap 55, 10-12

O silêncio que fala

«Ide anunciar a boa nova a todas as nações, e se necessário tomai a palavra!» É talvez o Evangelho da mulher adúltera (evangelho segundo São João, cap 8, vers 1-11) que inspirou essa fórmula de Francisco de Assis. Pois as acções mais marcantes neste texto situam-se não no momento do diálogo mas durante os momentos de silêncio. Sentado no chão, Jesus, encontra-se numa posição inferior em relação aos chefes religiosos. É talvez já aqui um sinal de que a humildade divina é mais forte que todos os esforços humanos. Os fariseus e os escribas chegam com uma mulher trazida como uma espécie de “objecto”, para por Jesus à prova. Para eles, não se tratava em primeiro lugar de fazer justiça ao caso daquela mulher, mas de ver a reacção de Jesus. O julgamento do caso será decisivo, pois se ele não a condena, não respeita a lei de Moisés, a Thora. Eles estão prontos a lutar, a argumentar, a discutir, eles estão prontos a tudo, excepto ao gesto que irá fazer o Nazareno. Em vez de se pôr a discutir, ele baixa a cabeça e põe-se a escrever com o dedo na terra. Ele simplesmente não responde. Qual deverá ter sido a reacção dos fariseus? Frustração, incerteza, dúvida? Eis em todo o caso uma primeira palavra do Senhor anunciada sem a pronunciar. Cristo prepara os seus interlocutores. Ele espera. Depois lança a frase chave da nossa leitura, a frase chave da boa-nova; «Aquele de entre vós que não pecou lhe atire a primeira pedra…» E mais uma vez, o dedo, a terra, o abaixamento, o silêncio.
Os fariseus e os escribas encontram-se face-a-face com eles próprios. Já não é uma questão da lei e de autoridades exteriores. Jesus dirige-se aos corações. "Cor ad cor loquitur", dizia Santo Agostinho: o coração fala ao coração. Jesus conduz os acusadores a interrogarem-se a si próprias: Que homem está sem pecado diante de Deus?
Quem fica completamente sem faltas diante do Senhor? Jesus escreve com o seu dedo na terra. «Não são palavras nem discursos cujo sentido se não perceba.» diz o salmo 19, «5O seu eco ressoou por toda a terra, e a sua palavra, até aos confins do mundo». Sim até aos confins do mundo e até ao coração do homem! O silêncio reina. A revolta, as discussões, as pedras, tudo cai literalmente por terra. Os fariseus vão-se embora – sem dúvida marcados por este silêncio eloquente. A mulher fica no centro, diante de Cristo. Ela espera o verdadeiro julgamento. O justo diante a pecadora; «a misericórdia diante da miséria» diz Santo Agostinho. Que diz então Jesus sozinho com a mulher? Existe de facto um julgamento, mas não é um julgamento segundo a carne, pois não é a justiça dos homens que opera. Deus, sendo «ternura e piedade, lento na cólera e cheio de amor» mostra-nos através dos actos do Filho, um julgamento extraordinário. A mulher estava ali como culpada; ela tornara-se a primeira testemunha da misericórdia de Deus. No antigo testamento, no livro de Daniel (no capítulo 5), lemos a história do Rei Baltazar que pecou contra o Senhor por ter bebido pelos cálices tirados do templo de Jerusalém. Durante um festim, os dedos de uma mão aparecem e começam a escrever na parede, dizendo que o Rei foi condenado à morte. Os dedos escrevem e o pecador é condenado! Mas neste texto quando Jesus escreve com o Seu dedo no chão é o pecado que é condenado. O próprio pecado é condenado, então o homem, ou aqui a mulher, é libertado e absolvido. É a condenação inaudita que nos é anunciada, é essa a boa nova dada gratuitamente. Meditemos na misericórdia de Deus durante esta semana escutando a Sua Palavra que é dita em silêncio…

domingo, 21 de março de 2010

Retiro na cidade - 32


Imagem tirada da net

A Palavra de Deus

« Ele correu a pendurar-se no seu pescoço e abraçou-o. »

Ecangelho segundo São Lucas, capítulo 15, versículo 20


Para e contra tudo


Quem não sonhou com semelhante acolhimento? Esta prodigalidade de um pai face às tropelias do seu filho é perturbante. Procuramos nós próprios sermos acolhedores como este Pai para com os outros? Como amar os outros se nem eu me sinto amado?

A quaresma é um bom momento para fazer o ponto da situação quando as dúvidas nos assaltam. Múltiplas questões podem surgir. De facto estaremos certos do amor de Deus? Como re-sentir essa ternura de Deus por nós? Pensaremos que se trata de uma ilusão? Uma vez mais a fé não consiste em sancionar as evidências. O conhecimento de Deus choca-se com o cristianismo na ferida do racional e a prova do relacional. Trata-se de saltar por cima das barreiras da incredulidade e de acreditar que Deus nos ama para e contra tudo.
É fácil dizer e certamente um caminho cheio de becos sem saída ou impossível, diremos. O irmão mais novo compreendeu que as suas errâncias não eram obstáculo para se meter a caminho. Não era muito merecedor, este homenzinho! Paremos de culpar! Não é o perfeito que é salvo mas o selvagem e ele acaba por ser o herói do festim final.

sexta-feira, 19 de março de 2010

Retiro na cidade - 31


A Palavra de Deus
«Tu, tu estiveste sempre comigo»
Evangelho segundo São Lucas, capítulo 15, versículo 31


A fé não é mensurável



Não existe aparelho que meça a fé. Não julguemos a relação dos outros, e a nossa própria, com Deus. Há um perigo espiritual mantido pelos dadores de lições de todos os tipos. A fé não se confunde com exercícios de devoção religiosa, e, ao mesmo tempo, uma fé que não se celebra corre o risco de anemia. Paradoxo cristão por excelência, esse desconforto na vida da fé faz a nossa grandeza.

Na Páscoa somos libertos do fascínio dos nossos méritos (se os houver); progrediremos na vida espiritual se nos demarcarmos de todo o espírito de medida da nossa relação com Deus. A morte de Cristo e o acontecimento da sua cruz são literalmente insensatos.

Ultrapassemos, atravessemos esta questão do sentido na nossa vida e na história. Metamo-nos na escola infantil como nos pede o Senhor. Não cortemos os cabelos em quatro! Confiemos simplesmente. Tenhamos agarrada ao corpo essa esperança de que estamos na mão de Deus. Cubramos a cabeça. Estamos salvos! Não sejamos Cristãos tristes! Velemos, esperemos, fiquemos alerta para este dia que se levanta a Oriente!
Cristo ressuscita todos os dias se soubermos abrir os olhos


quinta-feira, 18 de março de 2010

Retiro na cidade - 30

Imagem tirada de: http://www.movimentoescalada.org.br/wordpress/2009/06/celebrar-corpus-christi-e-se-transformar-pelo-amor-de-deus/

A palavra de Deus
ele começou a passar privações.
Evangelho segundo São Lucas, capítulo 15, versículo 14

Morrer de fome

Na vida de fé, somos constantemente convidados a irmos além do que os olhos vêem. O amor da beleza, o amor às honrarias, o fascinação da religião são perfeitamente normais. O amor incondicional do irmão é mais raro. No centro da nossa fé católica encontra-se um pouco de matéria, um pouco de pão e um pouco de vinho. Dirigir o nosso amor para qualquer coisa impessoal não é escândalo. O perigo não é que a alma duvide se há ou não pão e vinho mas que ela se persuada por uma mentira de que já não tem fome.

Admitamos humildemente que estamos morrendo de fome.
Se somos habitados pela falta, pela busca, pelo desejo, se nós fugimos das tranquilas certezas dos proprietários, então um festim espera-nos e o próprio Senhor nos servirá.
Não é o que se passa no final da parábola?

Deus não se faz esperar: É sempre Ele que nos espera nas encruzilhadas das nossas estradas humanas. Na eucaristia existe uma estreita ligação entre a nossa fome e a fome dos outros. É alimentados pela força do Senhor que seremos capazes de ter actos que propaguem vida à nossa volta. Acreditemos: todo o gesto de ternura para com os outros situa-nos no próprio Deus

quarta-feira, 17 de março de 2010

Retiro na cidade - 29


A Palavra de Deus

« então encolerizado não quis entrar»
Evangelho segundo São Lucas, capítulo 15, versículo 28


Ultrapassar as imagens


Que desmancha-prazeres, este filho mais velho! Incapaz de ler o amor que lhe tem o seu Pai. E para nós quem é ele? Sentimos a ternura de Deus por nós?
A parábola mostra-nos que não é tão fácil e que nós podemos facilmente ser cegos. Deus ama-nos, mas como? Um acto de fé não consiste em sancionar as evidências, senão não seria necessário. Tentemos ir além do domínio da percepção para tocar o mistério. Tentemos cruzar as nossas emoções para encontrar O que se recusa a ser espectacular. Para além das belas liturgias, o coração do mistério é dado num pouco de pão partilhado

Como compreender esta ligação tão estreita entre a discrição da presença de Deus e a realidade desta presença? Admitamos que ficamos perplexos diante deste Deus que é tão discreto. Apenas a oração permite ultrapassarmos este hiato entre o nosso ressentimento e o amor de Deus. Senhor, eu não sei como me amas, mas eu creio que tu o fazes. Deixemos finalmente as mascaras, fujamos dos papeis, das posturas que tomamos ao longo do dia.

O essencial não é ser o mais velho mas sim saber-se amado.


retiro na cidade - meio caminho



Foto de Luís Lobo Henriques tirada do Mil Imagens

A meio caminho

Caros retirantes
Quinta-feira passada, chegámos a metade da Quaresma. Na nossa marcha para a liberdade, eis-nos chegados a meio caminho. Atenção à tentação de fazer o balanço do nosso progresso, que pode ser desencorajante: o nosso entusiasmo inicial talvez tenha enfraquecido; descobrimo-nos menos fortes, menos perfeitos do que pensávamos ser. Descobrimos sobretudo que esta liberdade a que aspiramos não pode serarrancada; podemos apenas acolher daquele que nos diz: »Eu sou o Caminho, a Verdade e a Vida.»

Somos perto de 40.000, este ano, a caminhar juntos graças à internet: mais de mil vezes o número de irmãos do nosso convento de Lille! Os intercâmbios do blog permitem tornar visível esta vasta comunidade que formamos.

De entre as novidades deste ano, conheceis talvez já a rubrica «ensina-nos a rezar» (apprends-nos à prier). Cada semana o irmão Antoine propõe-nos algumas pistas concretas para encontrar Deus nas situações mais quotidianas. Descubram a proposta desta semana clicando no logo.

Retiro na cidade - 28



Foto de Ana Loura


A Palavra de Deus
«E, caindo em si…»
Evangelho segundo São Lucas capítulo 15, versículo 17

Enfrentar a vida

O filho quando está longe, faz um profundo caminho interior. Sem dúvida descobre quanto foi imprudente por ter saído de casa paterna, e a imagem do seu Pai aparece-lhe mais clara. É uma operação verdade que o liberta. Precisamos de compreender que são nos riscos da vida, nas nossas imperfeições e na nossa temporalidade que se inscreve o nosso caminho para a salvação, um caminho de verdade.

Não encarar as nossas tropelias desumaniza-nos. Encará-las liberta-nos…

Doravante é a nossa vida com as suas feridas e os seus sofrimentos, as suas injustiças e as suas violências que não são reparadas e curadas, mas guardadas pois são a realidade de homens que souberam permanecer assim. Apenas levaremos o nome de cristãos se continuarmos crentes na vida contra as evidências deprimentes das injustiças e dos sofrimentos íntimos. O homem é capaz da fé, da esperança e do amor, não apesar, mas graça à sua realidade humana. A nossa humanidade, dimensão carnal incluída, merece portanto ser salva tal como é. Não tenhamos medo da carne; não sonhemos ser anjos!

A procura da sua verdade libertar-nos-á mais que os princípios ou os pretensos valores. Tal como este filho pródigo, mergulhemos com coragem nas nossas histórias e então seremos capazes de nos pormos a caminho na direcção dos outros e de Deus.

Traduzido de: www.retraitedanslaville.org

segunda-feira, 15 de março de 2010

Retiro na cidade - 27


Foto retirada de: http://senhordosuco.wordpress.com/2008/08/06/dar-a-luz/


A Palavra de Deus

Ele diz ainda: um homem tinha dois filhos…»
Evangelho Segundo São Lucas capítulo 15, versículo 11

Parir
O que é a misericórdia? Em hebreu a palavra provém de uma raiz que significa útero. Ser misericordioso é voltar a dar à luz, dar a vida, pôr ao mundo. Jesus no evangelho terá múltiplos gestos de misericórdia. Podemos nós fazer o mesmo? O que é importante na nossa sociedade de solidão, de violência e de exclusão, é fazermos gestos que dem à luz um pouco mais de vida. Assim poderemos criar espaços de relações nas nossas sociedades demasiado impiedosas. A nossa sociedade tem falta de fraternidade. Restabeleçamos relação ali onde ela é ameaçada ou corrompida. Para serem viváveis, os lugares de vida têm necessidade de pré-julgamentos favoráveis e de esquecimento das ofensas. Em pouco tempo vibraremos, tremeremos mesmo, como mães pelos seus filhos. Os nossos desertos de solidão requerem ternura, atenção e amor. Todos os dias deste desafio podem ser superados por um sorriso, um gesto, uma palavra. Cabe-nos contribuir para a construção de um mundo realmente solidário. O que é ser cristão senão vibrar com a Misericórdia? «Bem aventurados os misericordiosos pois obterão misericórdia». As nossas entranhas não nos enganam: sabemos perfeitamente fremir pelo nosso próximo. Expandamos os nossos olhares.


Traduzido de: www.retraitedanslaville.org

Retiro na cidade - 26



A Palavra de Deus
«Eu aqui morro de fome»
Evangelho segundo São Lucas, capítulo 15, versículo 17

Ser e ter

Hoje lemos um dos best sellers da literatura evangélica. Conhecido pelo nome de Parábola do Filho pródigo, poderia também chamar-se «parábola do filho mais velho desmancha-prazeres» ou ainda «a fábula do pai incompreendido».

Esta história bem conhecida de um pai com os seus dois filhos infelizes…conhecemo-la muito bem porque de facto esta história é um pouco a nossa. Com efeito é a nossa história e a de Deus. Tudo é dito: os nossos desejos e o seu amor, os nossos medos e a sua presença, as nossas revoltas e a sua paciência, a nossa liberdade e a sua espera, a nossa loucura e a sua incrível misericórdia, a nossa depressão possível e sua distância de todos os abusos de poder…

O Pai é aquele que dá. Ele partilha tudo com os dois filhos. Para cada uma das suas fomes pressentimos que ele tem um alimento, para cada uma das suas feridas, um remédio. As suas mãos não retêm nada. Tudo que ele tem é deles. Ele é um pai pródigo. Ele apenas sabe dar.

O mais velho está instalado no seu papel, na sua responsabilidade de primeiro. Ele tomará a sucessão, a direcção dos negócios. Sem dúvida faz tudo para corresponder, pensa ele, ao que se espera dele. Ele preocupa-se muito com a sua imagem. Não se arrisca. Não transgride. Ele é um conservador sem dúvida muito atento à sua imagem social, familiar e talvez mesmo religiosa. Vemo-lo no fim da história, incapaz de partilhar a felicidade dos seus, amargo e dobrado sobre si mesmo. Ele não suportará o acolhimento que será feito ao seu irmão.•
O mais novo: ele não pode rivalizar; o mais velho pressiona-o demasiado. É ultrapassado. Poderíamos dizer que tem apenas duas escolhas: ou ser submisso ou rebelde. Talvez ele se sinta oprimido por tanta generosidade da parte de seu pai? É possível que ele enfrente um amor que o esgota. Ele depende em tudo de seu pai. Ele sente que não é nada. Ele precisa de provar a sua existência, encontrar a sua própria identidade. O mais velho: sério, submisso, seco, eu lamento-o! O mais novo: revoltado, estroina, sensível, gosto dele! Neste texto existe um paradoxo. Os dois rapazes são infelizes porque são profundamente amados. Esta diferença profunda entre a realidade e o que sentimos, nas relações de amor, é talvez a nossa.

O filho partiu. Ele escolheu apenas arriscar. Ele coloca-se fora do alcance e o pai já nada pode fazer por ele. Ele não o retém – como nunca reteve nada. Ele até dá ao seu filho tudo o que ele exige: uma parte da herança. Eis o rapaz sozinho face a si próprio, longe da sombra paternal. Ele tem o seu bem. Ele tem confiança nas coisas. Isso tranquiliza, as coisas! Ele entra na adolescência; ele instrui-se. Ele decifra a sua humanidade e as suas horas são ricas. Todas as nossas horas de travessuras, de depressões, de rupturas podem ser ricas. Ele sente que existe e que é cinzento. Ele sente o homem que nasce em si mesmo. Passa do ter ao ser. O seu combate é real. Ele enfrenta ainda as suas memórias. Ele lembra-se que mesmo que estivesse num casulo fechado, ele teria o afecto familiar. Ele toma consciência quanto mais certezas tem mais só está. Uma fome instala-se para não lhe dar repouso. Ele existe mas para ninguém. Pode alguém estar tão só? Entrando então em si mesmo, ele abandona a luta e pode fazer projectos. Sim ele perdeu muito mas ele é um homem vivo, que se levanta e que tem um futuro. Por isso ele deverá amaciar-se e reconhecer justamente aquele que o criou e que lhe manifestou a sua ternura. Ele não faz marcha-atrás. Ele começa uma viagem de regresso que aqui será uma conversão. De volta a casa ele não será mais o mesmo. Ele poderá apreciar a paz e a alegria de uma felicidade que ele não soube ver.

A rotura, a errância, a solidão, a perca, o naufrágio, a depressão, são momentos onde é possível humanizarmo-nos por pouco que tentemos ser nós próprios. O caminho do mais novo reitera-nos que todas as nossas horas podem ser ricas. Pelo contrário, a ausência de risco assumida pelo mais velho, que lhe atravessa a existência aparentemente sem se questionar, estreitando o olhar. A peregrinação interior aumentou o desejo do mais novo, e é apesar de tudo tão grande quanto o tamanho dos braços que o pai que irão estreitá-lo.

A nós cabe-nos não deixarmos desertos os caminhos interiores! A nós também um futuro abre-se!


Traduzido de: http://www.retraitedanslaville.org/

sexta-feira, 12 de março de 2010

Retiro na cidade - 25

Foto da autoria de Luís lobo Henriques (retirada do www.1000imagens.com)

A Palavra de Deus

2Bendiz, ó minha alma, o SENHOR,
e não esqueças nenhum dos seus benefícios.
Salmo 102 (103)



Cada manhã



Os benefícios de Deus… Sabemos nós reconhecê-los? Sabemos nós cultivar a sua memória? Aqui está uma conversão do olhar, uma conversão do coração, que nos trará à verdadeira felicidade. Os benefícios de Deus…Sinais de que Deus quer a felicidade das criaturas, a felicidade dos seus filhos.

Estamos convencidos de que o Deus de Jesus Cristo é o Deus da felicidade e que a conversão- com as suas exigências- é desde logo abertura à grande felicidade em Deus? Esta conversão de fé, de inteligência muda a representação que nós temos de Deus. Os benefícios de Deus…são tão numerosos! Cada manhã, é um milagre nós vermos o sol erguer-se; por cada um de nós estar vivo, para ler, pensar, dar felicidade aos outros, aprender a amar…

Os benefícios dos nossos amores, e das nossas amizades. Benefícios de tanta beleza que se nos oferece: beleza da criação, da doçura de um olhar que ama, da vida em germe numa criança, cumprindo-se num velho, beleza da solidariedade e da bondade que opera no mundo, beleza dos artesãos de paz. Benefícios secretos a serem descobertos em cada uma das nossas vidas para serem dadas graças.


E sobretudo, o inacreditável benefício do amor de Deus, do dom do Seu Filho tornado homem em Cristo para nos conduzir ao Pai através da Sua morte, da Sua ressurreição, da sua ascensão. Sim, «não esqueças nenhum dos seus benefícios»

Retiro na cidade - 24


A Palavra de Deus

eu preciso de ficar em tua casa

Evangelho segundo São Lucas, capítulo 19, versículo 5


Eu convido-me


Um cobrador de impostos pendurou-se na sua árvore. Ele está ali porque quer ver Jesus. Ele quer muito vê-lo, mas não quer ser visto. Ele esconde-se quer dos seus concidadãos quer de Jesus. Mas ele quer vê-lo. Zaqueu trepa para a sua árvore porque ouviu dizer que esse Jesus acolhia bem os publicanos, as prostitutas e os pecadores. Ele quer ver, ele olha, ele observa de longe, pelo sentimento da sua indignidade mas também para não ser incomodado.

Nós sentimo-nos também pecadores, mas desejamos ver Jesus por curiosidade ou porque pressentimos que Ele é fonte de misericórdia. Mas podemos também olhar Jesus de longe, para não sermos incomodados. Então, é Jesus que eleva o seu olhar para Zaqueu, que o olha e lhe fala: «eu preciso de ficar em tua casa». Jesus não lhe pede que o convide, ele convida-se.
Jesus, pelo olhar que lança a Zaqueu, leva o seu d
esejo da sua realização. O que ele não tinha ousado imaginar, ele o mal amado dos outros e dele próprio, realiza-se: o Senhor quer habitar na sua casa hoje, e não apenas na sua casa mas também no seu coração. Esta palavra, Jesus dirige-a a cada um de nós, mesmo quando nós o olhamos de longe, por medo ou por vergonha. Sabemos bem que acolher Cristo na nossa casa, em nós, compromete o n osso amor e obriga-nos à conversão.

Desçamos da árvore da auto-suficiência e do nosso medo, para acolhermos com alegria, aquele que pode converter o nosso coração.

quinta-feira, 11 de março de 2010

Retiro na cidade - 23


A Palavra de Deus
Deus dos Exércitos, fazei-nos voltar, iluminai o vosso rosto e seremos salvos.

Salmo 79 (80)

Eu venho buscar-te

Sozinhos como poderíamos voltar para Deus? Somos completamente incapazes de tomar o caminho do regresso se o próprio Deus não nos der forças. Assim, com o salmista, com todos aqueles que gritam no desespero, chamamos por Ele: «Deus, faz-nos voltar!» Através de um grito dirigido a Deus, grito inspirado pelo Espírito que habita em nós, estamos prontos para voltar, para a conversão. É a oração dos pobres a quem apenas resta uma coisa: a confiança absoluta de que Deus pelo seu amor os irá salvar. É uma questão de vida ou morte. A nossa vida está suspensa do olhar de Deus.

Por isso dê-mos a Deus livre acesso ao nosso coração. Ponhamo-nos debaixo do Seu olhar, como debaixo do sol para recebermos os seus raios. Acolhamos o Deus salvador, deixemo-lo entrar no mundo e o rosto de Deus iluminar-se-á para salvar todos os homens.
O rosto de Deus nosso Pai iluminou-se no Seu Filho. No Cristo, é o próprio Deus que volta para nós para nos fazer voltar a Ele. Salvo da morte, o primeiro, ele volta apara Seu Pai e abre-nos as portas da vida eterna. Sim, Deus salva-nos voltando e fazendo-nos voltar, libertando-nos de todos os caminhos de morte.

Quando o Seu rosto se ilumina, a ressurreição já chegou. A luz pascal pode brilhar sobre os nossos rostos para que o mundo se ilumine, permitindo-nos pousar sobre todos os homens o olhar do próprio Deus

terça-feira, 9 de março de 2010

Retiro na cidade - 22


A Palavra de Deus

10Respondeu-lhe Jesus: «Se conhecesses o dom que Deus tem para dar e quem é que te diz: ‘dá-me de beber’, tu é que lhe pedirias, e Ele havia de dar-te água viva!»
Evangelho segundo S. João, 4, 10


Ela espera


Jesus, a Água viva, está cansado e repousa na borda de um poço. Ele, a Fonte inesgotável, tem sede e pede de beber a uma estrangeira. A Samaritana está à espera; ela, uma mulher que não pertence ao Povo eleito, espera o Messias.
A sua curiosidade condu-la a um diálogo com Aquele que é ainda um desconhecido, e Jesus descobre nela um tesouro inesgotável, condu-la para o que ela sabe ser o Essencial.

O olhar de Jesus sobre a vida dela converte o seu coração, ele não a julga, mas liberta-a, recria-a. Jesus faz dela, de forma espontânea e imediata, uma testemunha que corre a anunciar a Boa Nova aos seus compatriotas: «Não seria ele o Messias?»
A conversão dela estava alí, em gérmen, na terra boa do seu coração, que Jesus conhece desde toda a eternidade. E esta conversão faz «bola de neve»: ela empurra a dos habitantes da cidade que graças a ela acolhem Jesus.
Ainda hoje, Jesus se senta na encruzilhada do nosso quotidiano. Hoje ainda, ele se aproxima da nossa vida vulgar, acolhedor e esperando tudo de nós. A nossa conversão está lá, à espera.


Traduzido de:
http://www.retraitedanslaville.org/spip.php?sommaire&date=2010-03-10

segunda-feira, 8 de março de 2010

retiro na cidade - 21



A Palavra de Deus

Eu vi a miséria do meu povo…e eu envio-te

Livro do êxodo, capítulo 3, ver 7-10



Vale a pena o desvio



A Bíblia diz que Moisés foi o homem mais doce que a terra deu! No entanto começou por matar um egípcio para salvar o seu irmão hebreu. Em seguida tomado de medo, ele foge para o deserto. Hoje ele não passa de um emigrado em terra estrangeira. Mas Deus irá «repatriá-lo».
Regressado do Deserto, Moisés vê um arbusto que arde sem se consumir. Deus manifesta-se nele. Troca de olhares e palavras, de silêncios. É o encontro. Fulgurante! Decisivo! Irreversível!
Que farás tu, Moisés, de toda essa violência que tens em ti? Desse espinheiro no íntimo do teu coração, que é, no entanto, terra santa? Deixarás tu a presença do divino transformar o poder destruidor em poder salvífico?
E Moisés abre-se a Deus. Então Deus diz-lhe: «Eu vi a miséria do meu povo. E Eu envio-te.» Querias salvar o teu povo? Deus junta-se ao teu desejo profundo, recria-o. Ele faz disso uma missão santa. Todo o encontro verdadeiro com Deus reorienta também o nosso desejo, e envia-nos em missão. Salvos da nossa própria violência, juntamo-nos aos nossos irmãos para os resgatar da escravidão pelo poder de Deus que nos conduz à Terra Prometida.

É assim que nós caminhamos juntos, da servidão ao serviço, graças ao amor ardente daquele que habita na sarça. Se portanto um misterioso arbusto se inflama no nosso deserto, não deixemos de o contemplar. Valerá a pena o desvio.


domingo, 7 de março de 2010

Retiro na cidade - 20


imagem retirada da net


A palavra de Deus
Tu crês no Filho do Homem?
Evangelho segundo São João, capítulo 9, versículo 35


Os dois milagres


Existem conversões fulgurantes, instantâneas, e outras mais lentas, como se Deus acertasse o seu passo ao ritmo daquele a quem ele vai dar essa graça – a nós, talvez…
É o caso do cego de Siloé, que Jesus encontra ao sair do Templo de Jerusalém. Um homem cego de nascença, a quem Jesus irá abrir os olhos do corpo: o primeiro milagre imediato!
Mas o segundo milagre, é o abrir progressivo dos olhos da sua fé à pessoa de Jesus, à sua verdadeira identidade. E isso através de diferentes discussões, em que ele vai ser conduzido a pronunciar-se sobre aquele que o curou.
Aos seus vizinhos de início, ele fala com prudência sobre o «homem a quem chamam Jesus». Face aos fariseus que o interpelam ele ousa avançar: «é um profeta». E quando eles reiteram as suas questões ameaçadoras, ele vai mais longe: Jesus é digno de ter discípulos, ele honra Deus e faz a Sua vontade, ele vem de Deus!
Enfim, ele franqueia o último passo da fé quando Jesus lhe pergunta: «Crês no Filho do Homem?» Dito de outra forma: Crês em mim, que vim salvar todos os homens? «Creio, Senhor!» Ao encontrar Jesus, Verdade e Luz do mundo, o antigo cego de Siloé viu todo o seu ser – corpo, espírito e alma – abrir-se progressivamente a essa Luz, cumprindo a palavra que Jesus acaba de pronunciar no Templo: «A Verdade vos libertará.» E nós, onde estamos nós no acolhimento desta Verdade que nos liberta?•
traduzido de: http://www.retraitedanslaville.org/

Retiro na cidade - 19


A Palavra de Deus
Eu vo-lo digo; mas, se não vos converterdes, perecereis todos igualmente
Evangelho segundo São Lucas, capítulo 13, versículo 3

O fruto da paixão


Uma desgraça caiu sobre um grupo de Galileus. Enquanto ofereciam um sacrifício, foram massacrados por Pilatos. Algumas pessoas relatam o acontecido a Jesus. O objectivo deles é claro, o seu julgamento afirmado: eles não podem ser senão pecadores para terem merecido essa sorte!

Eles esperam essa condenação por parte de Jesus, mas a Sua resposta é outra. Jesus não afirma que são pecadores esses pobres Galileus, nem mesmo Pilatos que acaba no entanto de cometer um crime. Por outro lado Jesus avisa seriamente os que lhe contam o acontecido: «Em verdade vos digo que se vos não converterdes perecereis todos como eles.»

Que conversão é essa tão vital, tão necessária, ao ponto de nos fazer perigar se não acontecer? Como bom pedagogo e perante a nossa legítima incompreensão, Jesus conta uma Parábola para nos abrir à sua mensagem.

Um homem tinha uma figueira plantada numa vinha, mas esta figueira não dá frutos, um verdadeiro drama para o seu proprietário: «há já três anos que eu venho buscar os frutos desta figueira e não encontro nenhum; corta-a.» Três anos em que esta figueira teve a sua sobrevivência graças à longa paciência do proprietário. Sobrevive, com efeito, mas não vive, não vive uma vida fecunda, vida que se comunica para fora de si mesma. Sem frutos ela tem a aparência de um morto vivo que é apenas um corpo sem espírito, nem alma. «porquê uso esta terra para coisa nenhuma?», exclama o proprietário! Esta figueira estéril não se alimenta do solo, não aproveita os elementos nutritivos que as suas raízes poderiam ir procurar longe nas profundezas. Ela não se preocupa com o sol nem com a chuva fecunda. Nada a toca, ela está ali sentada sem qualquer relação e sem saber que pode dar frutos e não cumpre aquilo para que foi criada. Será essa a conversão que nos é proposta: darmos frutos?

No seguimento da parábola, um misterioso vinhateiro intervém em favor da árvore: «Mestre, deixa-a mais este ano, o tempo para que eu cave à volta dela e para que eu a adube.» Normalmente o vinhateiro acupa-se dos ramos que poda para que a vinha dê boas uvas banhadas de sol. Mas aqui ele coloca-se de joelhos, ao pé da árvore, para cavar profundamente e pôr adubo.

Adubar à volta da árvore; como um forma de lhe dizer: vai ao fundo de ti mesma, a fonte está em ti. O olhar do vinhateiro é no início um olhar de confiança e de esperança de que todo o ser possa crescer deixando expandir o seu ser interior como a árvore expande e se alarga pela abundância da seiva. A conversão começa quando eu deixo penetrar em mim o olhar que faz vir à luz do dia o meu ser mais profundo. A conversão acontece com este olhar de Cristo que quer fazer crescer o homem repetindo-lhe a razão da sua existência: amar e dar a sua vida como Ele mesmo o fez «dou-vos um mandamento novo: amai-vos uns aos outros; como Eu vos amei, amai-vos uns aos outros.» (evangelho segundo São João, capítulo 13, versículo 34). Antes de nos dar este testamento, Cristo colocou-se ele também aos pés dos seus discípulos como um escravo, vestido com uma simples túnica e lavou-lhes os pés. Terna solicitude do mestre que não se enoja da sujidade dos nossos pés pela demasiada errância no pecado, a negação e o medo, mas ele diz-nos: «avança e continua a caminhar, sou eu quem te lava».

Precisamos de acolher a nossa conversão acolhendo um Deus que nos purifica através da sua misericórdia e do seu perdão. Deus ama-nos primeiro, muito antes de nós o amarmos, é ele o primeiro que se põe de joelhos, é o primeiro a lavar-nos e a curar-nos.

Então, sim, a vida, a verdadeira vida transmite-se e nós daremos finalmente frutos recebendo o fruto da paixão do Filho. Cristo deu a sua vida aceitando humildemente ir até á cruz, até ao rebaixamento da morte. Essa dádiva absoluta de amor, essa dádiva total da sua vida é a seiva de que nos podemos alimentar para darmos frutos. Esta vida recebida «de dentro» comunica-se «para fora» em frutos de vida mal nos voltemos na direcção dos mais pequenos dos nossos irmãos. «Deus quer que precisemos uns dos outros». Dizia a santa Catarina de Sena. A paixão de Deus pelo homem é uma paixão por uma humanidade fraterna. O fruto não é para a árvore, o fruto não alimenta a árvore. A glória da árvore é produzir fruta para que outros se alimentem. Ninguém deve viver sem o seu irmão, sem lhe levar frutos e o irmão sem o receber. Ninguém é uma figueira completamente estéril.

Traduzido de: http://www.retraitedanslaville.org/?date=2010-03-07&lecture

Retiro na cidade - 18


Imagem de Santo Atanásio

A Palavra de Deus

E da nuvem veio uma voz que disse: «Este é o meu Filho predilecto. Escutai-o.»
36Quando a voz se fez ouvir, Jesus ficou só. Os discípulos guardaram silêncio e, naqueles dias, nada contaram a ninguém do que tinham visto.

Evangelho segundo São Lucas 9, 35-36


Colocar-se na presença de Deus.


Temos tantas coisas para dizermos a Deus que a nossa oração transforma-se num boletim noticioso.
O telejornal é tão concentrado que quer apresentar o máximo de notícias em pouco tempo. Não actuemos assim com o Senhor. Ele sabe, muito antes de nós o que nos preocupará. Por isso na nossa oração deixemos espaço para a palavra de Deus. Deus veio falar-nos através do Seu Filho e testemunhas deixaram-nos traços escritos dos Seus ensinamentos. Não negligenciemos a leitura e releitura dos Evangelhos.

Acreditamos demasiadas vezes que conhecemos os textos, com efeito ouvimo-os durante a liturgia, ou mesmo guardamos a recordação da nossa educação cristã, talvez mesmo seja um dos elementos da nossa cultura.

Eu mesmo fiquei surpreso com o texto que meditámos juntos nestes últimos dias. Eu pensava conhecê-los bem e mais de uma vez fiquei confuso enquanto trabalhava.

Deixemo-nos surpreender pela Palavra de Deus, por esta mensagem de Amor universal, “porque o Filho de Deus fez-se homem para nos fazer Deus” (Santo Atanásio)

Tradução de: www.retraitedanslaville.org

Retiro na cidade - 17

Imagem retirada da net


A Palavra de Deus

33Quando eles iam separar-se de Jesus, Pedro disse-lhe: «Mestre, é bom estarmos aqui. Façamos três tendas: uma para ti, uma para Moisés e outra para Elias.» Não sabia o que estava a dizer

Evangelho segundo São Lucas 9, 33


Uma morada para Deus

Pedro queria construir tendas, queria instalar-se.

No Antigo Testamento, o rei David tinha querido construir uma morada para Deus, mas este havia-a recusado. Com o Novo testamento, descobrimos que Deus pelo Seu Espírito vem morar dentro de nós. O lugar onde Ele quer resiv«dir é o coração do homem. Ele não deseja, também, mais do que a nossa resposta ao amor pois Ele amou-nos primeiro e enviou-nos o Seu Filho como víctima pelos nossos pecados (primeira Epístola de João, cap 4, versículo 10)

Não sabemos rezar, diz São Paulo, mas o Espírito Santo ora em nós e por nós. O mistério de jesus que se desvenda na Transfiguração, convida-nos a a evoluir no nosso conhecimento de Deus guiados pelo Espírito.

Construiruma tenda marcaria uma paragem, fazendo-nos estagnar na nossa relação com Deus. Arriscamo-nos a fabricar o nosso próprio ídolo, um deus à nossa imagem, que responde aos nossos anseios, protegendo os nossos interesses, porque pensamos saber o que está bem.
Traduzido de: http://www.retraitedanslaville.org/spip.php?sommaire&date=2010-03-05

retiro na cidade - 16


Imagem retirada da net


A Palavra de Deus
32Pedro e os companheiros estavam a cair de sono; mas, despertando, viram a glória de Jesus e os dois homens que estavam com Ele

Evangelho segundo São Lucas 9, 32


Entrar na contemplação

Quando nos deixamos habitar pelo Espírito de Deus, o nosso olhar elevar-se e vemos, como o Criador, que tudo isso é muito bom.

Portanto como os discípulos que tinham adormecido, podemos também sentirmo-nos adormecidos pelos nossos limites humanos, pelas penas ou pela doença.Se olharmos à nossa volta, o mundo parece estar em muito má forma e as razões de desânimo abundam.

Deus não desconhece esta situação: ele deu a Lei a Moisés e enviou profetas para dizer como vivê-la. Mas isso não bastou, pois o respeito escrupuloso da lei não elimina completamente o mal. É porque Deus quer que o homem viva que enviou o Seu Filho ao mundo para o salvar. Jesus, que é a vida, deixou que se desencadeasse contra Ele, na sua paixão, todas as forças da morte. Assim ele pode absorvê-las na sua vida e sair vencedor pela Sua Ressurreição.

O Reino de Deus não se situa num lugar geográfico, nem num regime político a ser estabelecido. Ele é obra do Amor neste mundo. Com o nosso empenho, o Reino pode acontecer. Pois o mais pequeno acto de caridade, o mais pequeno gesto de solidariedade, tudo o que eu faço em favor da vida, serão germens e sinais do Reino de Deus.


Traduzido de:http://www.retraitedanslaville.org/spip.php?sommaire&date=2010-03-04

Retiro na cidade - 15


Romeiros de Nossa Senhora Mãe de Deus da Povoação, Ilha de São Miguel a orarem na igreja de São Pedro em Ponta Delgada. (Ana Loura)

A Palavra de Deus

30E dois homens conversavam com Ele: Moisés e Elias, 31os quais, aparecendo rodeados de glória, falavam da sua morte, que ia acontecer em Jerusalém.

Evangelho segundo São Lucas, 9, 30e31



Ir para além do tempo e do espaço



Rezando podemos apresentar a Deus todas as intenções que temos no coração, juntando para além das contingências físicas, todos aqueles por quem desejamos que Deus intervenha. Podemos até rezar pelos mortos.

Mas podendo sair da materialidade, a oração não é um refúgio onde podemos refugiar-nos para escapar à nossa condição. Com efeito, Jesus conversa com Moisés e Elias sobre a sua missão, ele transforma-se e pode também ganhar forças para cumprir o que ele terá que fazer. A oração permite-nos sairmos de nós mesmos para encontrarmos aquele que é o todo Outro. Com demasiada frequência nós vimos orar para apresentar a Deus a nossa vontade.

Quando Jesus ensina os seus discípulos a orar, ele ensina-lhes o Pai Nosso, algumas palavras simples. Mas ele diz seja feita a Vossa vontade. A oração é antes do mais um meio de conhecer a vontade de Deus que é o poder do amor para o mundo.

Tradução de: http://www.retraitedanslaville.org/spip.php?sommaire&date=2010-03-03

retiro na cidade - 14


A palavra de Deus
Enquanto orava, o aspecto do seu rosto modificou-se, e as suas vestes tornaram-se de uma brancura fulgurante
Evangelho segundo São Lucas 9, 29


Deixar-se moldar

A oração transforma-nos. Jesus nada faz, mas ele aparece diferente enquanto ora. Ele daixa-se moldar. Como isso nos parece impossível numa época em que a actividade reina. Precisamos de ser eficazes, rentáveis, "performantes". O homem moderno acredita que controla o seu meio-ambiente através da sua tecnologia, da sua ciência, da sua inteligência superior. Tudo acontece muito depressa, já não existe distância, posso estar no outro extremo do mundo amanhã.


Mas se os homens são tão eficazes por fora, não acontece o mesmo no interior. É um sítio que não suporta velocidades. O coração do homem é por vezesmais duro que a pedra e para ser moldado é preciso tempo.

Tenho uma amiga escultora, vi-a talhar um bloco de pedra para fazer uma estátua. Ela trabalhou muitas horas, estudando o material antes de bater com o cinzel e o martelo. Embora ela utilize por vezes a rebarbadora electrica para polir grandes áreas, os detalhes precisam de minúcia e aplicação.

O exemplo da artista pode ajudar-nos a compreender que o tempo é um aliado de Deus. Não sejamos desencorajados pelos nossos fardos e os nossos defeitos, é Ele quem seguramente age quando nós o deixamos agir.


Traduzido de: http://www.retraitedanslaville.org/

Retiro na cidade - 13


Clautros do Mosteiro de Singeverga. Foto retirada da net


A palavra de Deus

"Jesus toma consigo Pedro, João e Tiago e foram à montanha para orarem"

Evangelho segundo São Lucas, cap 9, ver 28


Pôr-se à distância


Caminhemos ao longo desta semana detalhando o texto do evangelhos da Transfiguração (Evangelho segundo São Lucas cap 9, vers 28-36). A acção desenrola-se enquanto Jesus está em oração. Por isso eu proponho que meditemos juntgos esta passagem para vermos o que nos pode ensinar sobre a oração.

Primeiro, a oração pede que nos distanciemos. Eles vão para a montanhs. Se a montanha é na tradição bíblica o local do reencontro com Deus, ela faz-nos tambem compreender que a oração pode ser um esforço, como a escalada. Orar, é previlegiar instantes para o recolhimento, é dar-mos tempo a Deus. Nas nossas vidas activas, é preciso lutar para encontrarmos um momento livre para rezar. Mesmo no fundo dos clautros, onde a vida é consagrada à oração, o relógio é muito útil para nos chamar à capela e nos tirar monopólio das nossas ocupações. Não, não nos é fácil colocarmo-nos em oração. Não é mais fácil aguentarmos o dia-a-dia sobretudo se estamos sós.

Quero sugerir-vos alguns truques práticos: anoto na minha agenda um espaço de tempo para orar, encontro um momento na minha vida e aprendo a gerí-lo, a caminho do escritório, do liceu, do supermercado, a passear, se passo ao pé de uma igreja, eu tomo alguns minutos para visitar Jesus presente no sacrário. Esse tempo gratuíto dado a Deus, serme-á devolvido em disponibilidade para os outros. Tente e verá.

Retiro na cidade - 12


A Palavra de Deus

27E Eu vos asseguro: Alguns dos que estão aqui presentes não experimentarão a morte, enquanto não virem o Reino de Deus.»
28Uns oito dias depois destas palavras, levando consigo Pedro, João e Tiago, Jesus subiu ao monte para orar. 29Enquanto orava, o aspecto do seu rosto modificou-se, e as suas vestes tornaram-se de uma brancura fulgurante

Evangelho segundo São Lucas 9, 27-29



O segredo do Reino

Jesus faz uma promessa: «Alguns dos que estão aqui presentes não experimentarão a morte, enquanto não virem o Reino de Deus.» E hoje, Jesus manifesta diante dos seus discípulosa sua natureza divina. Pedro pensa que o Reino prometido por Jesus chegou? Ele deseja ficar na montanha, montar tendas, instalar-se na presença de Deus.

Pedro deverá descobrir que o segredo do Reino não está numa manifestação extraordinária, mesmo divina. O véu cai. Jesus está novamente sózinho com os seus discípulos. Eles deverão pôr-se a escutá-lo seguindo-o pelas estradas da Galileia e fazerem silêncio durante algum tempo sobre o que tinham visto. A Transfiguração é dada aos apóstolos para que seja um sustentáculo para os apoiar durante as provas que eles terão de enfrentar durante a Paixão de Jesus. Eles poderão agarrar-se a esta recordação como sustentáculo da sua fé no momento em que tudo lhes parecerá insensato e perdido.

Também nós somos convocados para subirmos à montanha e sermos testemunhas de uma transfiguração. Somos chamados a ver Deus. Pela fé, nós acreditamos que ele dá-se a ver no sacramento da Eucaristia. Poderiamos então ter, como Pedro, a tentação de montar uma tenda e de pararmos alí. Mas, o seguimento de Cristo chama-nos para os caminhos do mundo.

Como os apóstolos, ponhamo-nos à escuta de Jesus quando ele fala no Reino de Deus: «40E o Rei vai dizer-lhes, em resposta: ‘Em verdade vos digo: Sempre que fizestes isto a um destes meus irmãos mais pequeninos, a mim mesmo o fizestes.’ » (Evangelho segundo S. Mateus, cap 25, vers 40). Este Rei dirige-se áqueles que julgou dignos de entrarem no seu Reino. Quem são eles? Aqueles que visitaram os doentes ou os prisioneiros, acolhido os estrangeiros, alimentado e vestido os pobres. Tais são aqueles sobre os quais quer reinar o rei que é Deus.

Certamente não é fácil reconhecer no outro e em si mesmo a imagem de Deus, pois ela está bem longe de ser resplandescente, da brancura luminosa que os apóstolos viram no cimo da montanha. Como ver a semelhança divina, quando o corpo está deteriorado pela idade ou pela doença, quando nos sentimos estrangeiros na nossa própria existência? Quando os nossos próximos são os nossos algozes quando deveriam ser contrabandistas do amor? Quando entre irmãos, nos afastamos, quando o ódio divide um país, quando matamos em nome da religião? Mas é esta a humanidade que Deus ama e que ele nos convida a amar com ele e como ele, para além da aparência, para que o seu reino aconteça. Seremos nós capazes de remover o véu da miséria e do nosso olhar deformado pelo pecado?

A bem-aventurada Teresa de Calcutá propõe-nos um caminho: o da oração. Segundo ela, «a oração profunda alarga o coração, levanta o véu que nos obscurece os olhos para que contemplemos Cristo em todos os rostos que nos são oferecidos e olhemos o mundo com olhar que ama. É conhecendo Jesus na oração que O reconhecemos nos corpos dos maltratados e dos mendigos. Não existe oração sem silêncio para que Deus possa entender-se com as almas. Exterior, silêncio vem purificar os nossos olhos, a nossa boca, os nossos ouvidos, todos os nossos sentidos. Interior, ele é apaziguador do coração e do espírito que conduz ao esquecimento de si, à aprendizagem da verdade e à união íntima com Deus.»



Tradução de: http://www.retraitedanslaville.org/spip.php?sommaire&date=2010-02-28

Retiro na cidade - 11


Imagem retirada de http://sementinhakids.wordpress.com/

A Palavra de Deus

«O Reino de Deus não vem de maneira ostensiva. 21Ninguém poderá afirmar: ‘Ei-lo aqui’ ou ‘Ei-lo ali’, pois o Reino de Deus está entre vós.»
Evangelho segundo São Lucas Cap 17, vers 20 e 21



Da-nos hoje o nosso pão para amanhã



Será que «O pão nosso de cada dia nos dai hoje» do Pai Nosso, nos faz pedir ao Pai o pão da alimentação? Não é verdade que nós esperamos esse pão mais da terra e do trabalho dos homens? O pão que pedimos a nosso Pai do céu é um pão que não mata a fome.

Um biblista mostra que a palavra que traduzimos por «de cada dia» poderia também ser traduzinho por «de amanhã». Poderiamos portanto dizer: «dá-nos hoje o pão de amanhã». Jesus teria feito este pedido em memória do maná: Como os hebreus no deserto no sexto dia o maná para esse dia e para o dia seguinte, dia de descanso, Jesus pede a seu Pai que dê hoje o pão do descanso, o pão deste Reino, que estava a ficar mais próximo.

Já que o Pai Nosso nos faz pedir pão a Deus, e pouco importa que digamos «pão de cada dia» ou «pão para amanhã», escolhemos com Jesus a vida do Reino. Jesus revelou-nos isso pelos seus ensinamentos, pelo dom da Sua vida, pelos seus sacramentos, e introduzindo-nos também no segredo da sua oração.

Traduzido de: http://www.retraitedanslaville.org/spip.php?sommaire&date=2010-02-27

quinta-feira, 4 de março de 2010

Retiro na cidade - 10


A Palavra de Deus

39E, adiantando-se um pouco mais, caiu com a face por terra, orando e dizendo: «Meu Pai, se é possível, afaste-se de mim este cálice. No entanto, não seja como Eu quero, mas como Tu queres.»
Evangelho segundo São Mateus Cap 25, vers 39




Não nos deixes cair em tentação



A última tentação de Jesus, seria a de escapar à cruz. O «meu pai» é já, no entanto, mais forte que a tentação. Existirá mais bela expressão do que «seja feita a Vossa vontade» dessa oração, a sua oração, que ele ensina aos seus discípulos, «que seja feita a tua vontade e não a minha»?
A vontade de Deus para os seus filhos bem-amados será de qualquer forma a tortura e a morte? E a Sua vontade será que cedamos àprópria tentação, já que o Pai Nosso nos faz pedir: «não nos deixes cair em tentação»? Mas Deus não deseja para os seus filhos nada de mau. ele deseja para eles a vida em plenitude até à vida eterna, essa vida oferecida pelo Espírito Santo, que se reforça na completa recusa do mal, de toda a resistencia às tentações. É esse o caminho de Jesus. Caminho sem fuga, sem retorno.

O caminho passou pela Cruz, sinal de morte para aqueles que não a vêem como sinal, Sinal de ressurreição para os cristãos. «não nos deixes cair em tentação»: significa que a victória de Cristo sobre o mal é total. Nela, Satanás submeteu-se a Deus. Deus é o mestre das tentações do maligno. E tem poder de nos livrar delas. Assim depois: «não nos deixes cair em tentação», o Pai Nosso pede: «mas livra-nos do mal».

Retiro na cidade - 9


Romaria quaresmal da Diáspora 2010, Ilha de São Miguel. Foto de Ana Loura

A Palavra de Deus


9E, na terra, a ninguém chameis ‘Pai’, porque um só é o vosso ‘Pai’: aquele que está no Céu.
Evangelho segundo São Mateus, cap 23, vers 9




O Pai está nos Céus




Lembremo-nos das primeiras palavras do Pai Nosso de Jaques Prévert: «Pai Nosso que estais nos céus. Ficai aí.» Abusador, talvez, o poeta, mas não tão longe do Reino de Deus, segundo o que disse Jesus: «Não chameis a ninguém de vosso «Pai» sobre a terra...»


Ser tomado pela ideia que de que existe apenas um Pai, é reconhecer Deus como Deus. E para além disso existe o obrigada, Deus!, pais entre nós, pais de família, e aqueles a quem nós respeitosamente dizeremos "meu pai", quando eles não são nossos. Como sair desta confusão? O Evangelho não é contra a lógica. Reconhecer com Jesus que apenas Deus o «Pai», é trazer um certo olhar sobre as nossas paternidades humanas e espirituais. A verdade da nossa condição é podermos dirigir-nos a Deus chamando-o de «Pai nosso». Entre nós, apenas existem portanto, filhos e filhas.

Ser pai, tanto na geração como no espírito, é poder ser testemunha de outro, do meu filho, da minha filha, da minha própria condição de filho. Filho, filho, quer diz não ser escravo mas livre, não vazio de esperança de uma herança de futuro, mas ser herdeiro de uma promessa de vida, não sem Pai, mas amado ao longo dos anos pelo nosso Pai celeste. Todos filhos e filhas, todos filhos de Deus, todos prometidos a vivermos no Seu Reino.

Retiro na cidade - 8


Imagem retirada de:http://www.construirnoticias.com.br/asp/materia.asp?id=1261

A palavra de Deus

Quando vos levantais para orar, se tiverdes alguma coisa contra alguém, perdoai-lhe primeiro, 25para que o vosso Pai que está no céu vos perdoe também as vossas ofensas. 26Porque, se não perdoardes, também o vosso Pai que está no Céu não perdoará as vossas ofensas.»
Evangelho segundo São Marcos, cap 11, versículo 25-26.




Quando a oração age




A versão do Pai Nosso que propõe o Evangelho segundo São Marcos é mais compacta. Contém uma frase. Mas, surpresa! Esta frase não é «uma a oração». Ela não diz o que deve ser dito na oração, mas ela diz o que fazer, rezando. «se tiverdes alguma coisa contra alguém, perdoai-lhe primeiro»

Perdoa-lhe a dívida que ele tem para contigo. Trata-se de renunciar ao espírito de vingança. O Pai Nosso na versão de Marcos vai ao essencial. Ele sabe que sozinhos diante de Deus, antes que se chegue ao elogio, é a nossa cólera, o ruído dos nossos rancores, que irá fazer-se ouvir. E São Marcos faz deste «perdoa-lhe a sua dívida para contigo» o acesso à plena presença dAquele que é meu Pai mas também o dele, daquele contra quem eu tenho queixas.


Não se enganem, porém, sobre o significado da frase « perdoai-lhe primeiro, para que o vosso Pai que está no céu vos perdoe também as vossas ofensas». Não se trata aqui de um toma-lá-dá-cá, de um negócio. Deus não faz comércio connosco. Ele não negoceia a Sua misericórdia. Trata-se dessa imensa generosidade à qual chamamos «perdão». O perdão de Deus é-nos dado e nós recebêmo-lo, dando-o por nossa vez. A misericórdia do Pai para connosco ,transforma-nos nela, em misericórdia para com nossos irmãos




Traduzido de: http://www.retraitedanslaville.org

Retiro na cidade - 7


imagem retirada daqui: http://iapropiedade.blogspot.com/


A Palavra de Deus


7Nas vossas orações, não sejais como os gentios, que usam de vãs repetições, porque pensam que, por muito falarem, serão atendidos. 8Não façais como eles, porque o vosso Pai celeste sabe do que necessitais antes de vós lho pedirdes.»
Evangelho segundo São Mateus 6, 7 e 8

A nossa oração somos nós


No sentido não religioso do termo, nas múltiplas palavras que tecem a vida social, «orar. (Tradução do termo francês prier que traduzido à letra seria pedir)», é solicitar, implorar, suplicar, convidar, pedir, mandar vir. Resumindo, pelas orações (pedidos), nós dirigimo-nos a alguém para obter dele qualquer coisa.

Não é assim, diz-nos Jesus, que temos de estar no retiro da oração. E ele está feliz porque assim seja! A oração faz-nos amar o silêncio. Encontramos nele o repouso. Nós levamos connosco, certamente, preocupações e inquietações com numerosos rostos. Mas isso Ele sabe-o, vê-o, Aquele que está alí connosco no quarto do nosso coração. A nossa oração, os nossos pedidos, somos nós ! Assim não nos arriscamos a esquecer o que quer que seja ou quem quer que seja nas nossas orações. E ainda mais tranquilizador, Deus ouve o apelo que o nosso ser presente na Sua Presença lhe endereça em silêncio. Ele age por nós e por aqueles que nós levamos connosco à Sua presença, sem tardar. Sem dúvida não como imaginamos, mas quem sabe exactamente o que é correcto e bom ?

Mais à frente em São Mateus, Jesus convida-nos a pedir «coisas boas» (Cap 7, versículo 11) Quais? Mas em São Lucas, Jesus di-lo por palavras que conduzem a oração ao espaço do silêncio: « Pois se vós, que sois maus, sabeis dar coisas boas aos vossos filhos, quanto mais o Pai do Céu dará o Espírito Santo àqueles que lho pedem!»