quinta-feira, 17 de julho de 2008

Oportunidade a não perder


Um ano com Paulo de Tarso – aprender a esperança
A proclamação pelo Papa Bento XVI do Ano Paulino iniciado a 29 de Junho passado, assinalando os dois mil anos do Apóstolo Paulo, pode e deve constituir um bom pretexto para aprender alguma coisa com o Apóstolo dos gentios, ou seja, dos não-judeus.Ele que foi um judeu culto e rigorosamente observante do Judaísmo, levou a sua condição de fariseu até ao extremo de perseguir os primeiros cristãos. Dele se diz que “devastava” a Igreja. No entanto, o mesmo intransigente fariseu, mediante uma forte experiência de conversão, acaba tornando-se um discípulo apaixonado e um fogoso apóstolo de Jesus Cristo.Do muito que se pode aprender com Paulo, a partir dos seus escritos, a esperança é, claramente, um dos núcleos duros da sua mensagem. Ela tem a sua raiz no paradoxo da vida cristã. É que, a originalidade cristã está no facto de, mediante a Ressurreição de Jesus, a presença do mundo novo desejado por Deus para todos os humanos, já ser uma realidade em acção na história humana, embora de forma oculta. Contudo, é também uma presença ainda não plenamente manifesta, porque sempre-a-vir até à volta gloriosa e definitiva de Jesus, isto é, quando Deus for “tudo em todos” na expressão do próprio Paulo.A existência cristã vive-se neste tempo que medeia entre aquele já e o ainda não, em que todos os cristãos já vivem do Espírito Santo, mas esperam ainda o que o Apóstolo chama a “adopção filial e a libertação do nosso corpo” (Rom. 8, 18-23). É o tempo da esperança.Como diz o biblista Ravasi, a Esperança, parecendo a menor das três virtudes teologais, incluindo a Fé e a Caridade, é ela, no entanto, que leva pela mão aquelas duas virtudes maiores do Cristianismo. Ela manifesta-se como esperança física em todo o esforço humano por manter as pessoas de pé. Ao mesmo tempo, como esperança espiritual, traduz-se no Perdão que encoraja e permite retomar a vida, até mesmo quando ferida pelo desespero. É uma Esperança que volta para o futuro abrindo a história humana para a “utopia” da Jerusalém nova ou da vida em plenitude.Uma vez que, na perspectiva paulina, toda a Criação está ferida e sofre as “dores de parto”, também a Igreja participa da mesma dor. Com Paulo, herói da Esperança, ele sabe que a Primavera trabalha a terra e a criação inteira que Deus visita sempre de novo.Diante da dor sem esperança de tantos homens e mulheres, compete à Igreja ser testemunha da compaixão e uma presença que não julga ou um silêncio que acolhe o seu grito encaminhando-o para a Palavra de Deus feita carne na pessoa de Jesus Cristo.Nesta viagem humana feita no tempo, Paulo pode ser um guia ajustado às próprias circunstâncias em que se encontra a Igreja de hoje. Resta esperar que o Ano Paulino se revele uma feliz oportunidade a não perder.