domingo, 22 de março de 2009

Retiro na cidade- 22 de Março

Foto de João Santiago em Olhares

Um sopro de liberdade


A Palavra de Deus

13Irmãos, de facto, foi para a liberdade que vós fostes chamados. Só que não deveis deixar que essa liberdade se torne numa ocasião para os vossos apetites carnais. Pelo contrário: pelo amor, fazei-vos servos uns dos outros. 14É que toda a Lei se cumpre plenamente nesta única palavra:
Ama o teu próximo como a ti mesmo.

Carta de S. Paulo ao Gálatas, Cap5, 13-14 (Bíblia dos Capuchinhos)

A meditação

Nas suas cartas dirigidas aos primeiros cristãos, S. Paulo convida regularmente os seus auditores à liberdade. Pede-lhes que sejam filhos e não escravos, opondo a liberdade da vida cristã à servidão da Lei.

Com efeito, a antiga religião consistia principalmente em seguir-se todos os mandamentos, estritamente, sem questioná-los. Desde então, os cristãos, não deveriam desembaraçar-se de todas as leis e rituais? É necessário seguir as tradições, já que Jesus parece ter-nos libertado dos constrangimentos de uma lei demasiado rígida?

Poderíamos pensar que a liberdade consiste, para todo o ser humano, em poder fazer o que quer. Se o homem é livre, não deve ser submisso a uma lei, mesmo que ela seja boa! Ele deve ser capaz de escolher ele mesmo, com a sua inteligência e o seu coração, para fazer boas escolhas.
E além disso, é verdade que Deus correu este risco quando criou o ser humano: preferiu fazer de nós seres livres, em vez de máquinas que funcionam perfeitamente “redondas” Ao criar o homem à sua imagem, Deus fez a aposta de o deixar livre de conduzir a sua própria vida. Mas isso não quer dizer que o homem seja capaz de decidir ele próprio o que é bem e mal. Se o homem é uma imagem de Deus, isso significa que pode fazer o bem, como Deus, quer dizer dar a vida, participar na criação, que é boa. Deus é aquele que não faz mal.

Mas, quando eu fizer um mau uso da minha liberdade, eu tenho consciência de não estar de acordo com o que eu desejo no mais profundo de mim mesmo: a minha vida deixa de estar em paz, os meus laços com as pessoas que me rodeiam tornam-se conflituosos, complicados, desconfiados.

Finalmente, eu chego a desconfiar também de mim próprio, e mesmo de Deus. Já que Deus é «Todo poderoso», porque não me impediu ele de fazer ou sofrer o mal? Porque me deixou livre, se é para me confrontar com o fracasso?
Sabemos todos que não há resposta satisfatória à pergunta «porque sofro?» É particularmente verdade quando me sinto inocente, ou atingido por um mal de uma forma desmesurada ou sem razão. Mas misteriosamente, mesmo face ao sofrimento presente no mundo, nós sabemos que permanecemos livres, que dizer capazes de fazermos um bom uso da nossa liberdade.
Enquanto homem, eu continuo capaz do amor em toda as situações da minha vida; eu posso sempre ser renovado à imagem de Deus. Apesar do mal, e para além do mal, a fé empurra-me a esperar uma vida nova, o surgimento de um Bem muito maior. Mas então coloca-se uma questão: como posso atingir o bem, sendo verdadeiramente livre? Poderei ser libertado do mal, sem ser simplesmente submetido à Lei, dócil ou resignado?

A confiança em Deus é uma certeza sobre a qual posso fundar toda a minha vida: Deus não me abandonará! Se Deus me criou livre, e me deu o desejo de ser «perfeito como ele próprio é perfeito», é porque ele me ama como um pai, e me dá os meios de crescer em liberdade. Os mandamentos que ele propõe não são portanto um constrangimento ou um fardo. Porque que pai deixaria o seu filho fazer o que quer, sem lhe dar conselhos, sem o proteger contra os perigos? Assim as leis e a tradição, transmitida pela experiência aos homens, dão-me pistas e hábitos para procurar o que está bem e é bom, e evitar o mal.

No entanto, toda a criança, deve tornar-se adulto. O que Deus me faz desejar, não é contentar-me em seguir uma lei, mas a possibilidade de entrar na minha própria vida, partilhar o seu sopro, a sua respiração. Como numa relação de amizade, gratuita e desinteressada, esqueço-me um pouco de mim próprio, e a minha única alegria é de estar com ele. Amar Deus é amar viver com ele e como ele.

Ora a vida de Deus, é estar eternamente virado para os outros, como um pai que não vive senão para os seus filhos. É por isso que o amor de Deus não pode ser um olhar para dentro mas estar disponível para os outros.
Sou, então, verdadeiramente livre quando liberto dos meus pequenos desejos, posso viver segundo o meu maior desejo : entrar na intimidade de Deus, cuja vida consiste em dar vida aos outros. Por isso, não posso satisfazer-me em cumprir estes deveres, mas o amor de Deus e dos homens compromete toda a minha vida. Partilho a sede de Deus, que deseja simplesmente dar a vida, livremente, por amor; e a minha vida torna-se ela mesma fonte de vida, não somente para mim, mas para todos os irmãos que eu encontro.


segunda-feira, 9 de março de 2009

Retiro na cidade- 09 de Março

Imagem do Premier de cordée retirada da net

Deus, o “premier de cordée”


(nota da tradutora: premier de cordée é o cume granítico de uma cordilheira montanhosa nos Alpes, 3.308 metros de altitude)

A Palavra de Deus

«Jesus tomou consigo Pedro, Tiago e João e levou-os, só a eles, a um monte elevado. E transfigurou-se diante deles» Marcos 9, 2

A meditação

Para esta segunda semana, iremos retomar passo a passo o evangelho da Transfiguração escutado este Domingo. Iremos avançar versículo a versículo: um versículo por dia para alimentar a jornada.

O exercício concreto desta semana consistirá em ler e reler um só versículo por dia, mastigá-lo para lhe extrairmos uma «palavra» dirigida a cada um. Ouso mesmo propor que aprendamos de cor um versículo por dia para que no final da semana, saibamos o evangelho da Transfiguração de cor. Este texto poderia também acompanhar-nos até à Páscoa.

«a um elevado monte (montanha)»: As montanhas são numerosas na Bíblia: Montanha do Horeb onde Deus se revela a Moisés e depois a Elias, Montanha das Bem-Aventuranças, Monte das Oliveiras, até ao rochedo de Golgota onde Cristo é crucificado. A montanha, é o lugar de contacto entre o céu e a terra. Um lugar ideal para a transfiguração. A montanha, é também o lugar do desprendimento da planície, do quotidiano, de uma certa - ousemos a palavra - sensaboria. Como os apóstolos conduzidos ao «cume de uma montanha», deixemos a planície para entrarmos na intimidade de Deus que nós teremos, seguidamente apenas, de revelar aos nossos irmãos.

Exercício deste dia: Ler e reler este versículo, talvez mesmo aprendê-lo de cor, e entender o seu significado para mim. Qual é a montanha onde Deus me chama

domingo, 8 de março de 2009

Imagem retirada da net
Proposta de retiro quaresmal dos Dominicanos de Lille

A palavra de Deus

5Tomando a palavra, Pedro disse a Jesus: «Mestre, bom é estarmos aqui; façamos três tendas: uma para ti, uma para Moisés e uma para Elias.»
6Não sabia que dizer, pois estavam assombrados
. Marcos 9, 5-6 (Bíblia dos Capuchinhos)

Eu sei bem que tu me amas

A meditação

A transfiguração é na vida de Jesus um acontecimento fora de série, um acontecimento diante do qual é difícil não partilharmos da mesma admiração e do mesmo medo que sentiram os discípulos. Havia razão suficiente para perderem toda a postura. Tanto mais se sentirmos essa convulsão no nosso encontro com Deus.

Esta segunda semana de quaresma é talvez marcada para nós por esta perda de referências, esta convulsão na vida espiritual. Primeira semana: aí vamos nós, com o coração valente, cheio de energia. Tudo está bem. Depois chegam as primeiras desilusões, a impressão penetrante do tempo que passa demasiadamente lento e sobretudo a ausência de recompensa para os esforços bem intencionados. Esperará Deus outra coisa de nós ?

Eu gostaria de partir da palavra de Pedro relatada no evangelho para mostrar que a perda de referências faz parte do encontro com Deus. Ainda mais, ela não pode ter lugar sem «Mestre, que bom é estarmos aqui; façamos três tendas: uma para ti, uma para Moisés e uma para Elias.»
É simpático Pedro ter distribuído as tendas. Simpático porque completamente escalonadas. O evangelista não se priva de sublinhar: «de facto, ele não sabia o que dizer tão grande era o seu assombro». Que contraste entre o que diz Pedro e o que ele sente. «Que bom estarmos aqui?» pode aparecer quase como delicado, como se ele dissesse «mas claro, mas claro, estamos tão bem com vocês os três» mas quando na realidade, «tão grande era o seu medo»!

Dir-se-ia que Pedro fala a Deus por falar, para encher a conversa, sobretudo para não dizer que é ele quem está com medo. Não procuraria ele desajeitadamente esconder-se?
«Sabes bem que eu te amo» responderá por três vezes Pedro a Cristo que lhe perguntou «Pedro, amas-me mais do que me amam esses outros aqui?» depois da ressurreição, depois da sua tripla negação (Evangelho de João, Capítulo 21)
«Tu sabes bem que te amo». Frase terrível, que poderia soar quase como um censura- «mas enfim, tu sabes perfeitamente»- Se nós não sentíssemos que a frase mesma está impregnada de uma tristeza insondável pela visão humana. «Tu sabes bem que eu te amo», mas eis que tu sabes também que eu te reneguei. A tua pergunta vai buscar-me ao mais negro e mais perdido de mim mesmo.

O texto original do evangelho, em grego, é ainda mais terrível. A tradução francesa traduz sem diferença os dois verbos diferentes para designar o amor que é pergunta na pergunta de Cristo e na resposta de Pedro. Um só verbo em francês para amar, quando há dois em grego, um para designar amor forte, exclusivo e um outro para designar um amor mais banal. Simplificando, e colando ao texto poderíamos traduzir assim:
- Pedro, tu amas-me ?
- Tu sabes bem que gosto muito de ti.
Terrível a resposta de Pedro, de um homem que já não procura nem fugir, mudar. «Sim, eu gosto muito de ti», quer dizer «não muito», nada mais do que isto. Imagino um casal em que um dos conjugues diz ao outro «gosto muito de ti». O quê? Só isso? Há razões para a união colapsar.
O diálogo de Jesus e Pedro pode mesmo ser apresentado assim: «Pedro amas-me?»-«Mas tu sabes bem Senhor, tu sabes bem que eu não te amo».

Duas vezes mais, Cristo irá colocar a questão crucial: «Amas-me?» e Pedro irá responder de cada vez que «gosto muito dele». À terceira vez, Cristo irá perguntar tomando o termo que Pedro usou: «Pedro tu gostas muito de mim?» E o evangelista comenta: Pedro fica muito triste porque Cristo lhe põe a questão dessa forma.

A quaresma é talvez, no seu princípio pelo menos, o reconhecimento assustador que simplesmente nós «gostamos muito de Deus», ver que «nós não o amamos». Somos como Pedro, nós não «sabemos muito bem o que dizer», confundidos, voltados diante quem é Deus e quem nós somos, nós diante dele. Esta confusão faz parte da relação autêntica com Deus. Esta confusão do coração desculpado por não amar, este «e não te amo como tu me pedes» que nós podemos provar, quando é assumido, torna possível a nossa própria transfiguração. Ela deixa o próprio Deus amar em nós como devemos amá-lo.

Retomo o meu casalzinho de que um dos conjugues confessava simplesmente «gostar muito» do outro. A salvação de um tal casal não estaria na desculpa confessada desse pouco amor? O conjugue poderia dizer: «minha querida, não te amo muito, amo-te mal, mas apesar de tudo amo-te. Eu lamento o meu pouco amor mas aceita-o apesar disso.»

Quando Deus entra nas nossas vidas ; as nossas reacções nem sempre estão à altura. Será que alguma vez estaremos à altura do amor? Nós não o poderemos estar sem o socorro de Deus. O «tu sabes bem» de Pedro deixa o olhar de Cristo sondar plenamente o seu coração. Este «tu sabem bem» de Pedro vem de alguma forma responder a «ele não sabia o que dizer». Eu, eu não sei, mas tu, tu sabes. Pedro sabe que os movimentos do coração do homem não podem escapar ao seu mestre. Desta vez ele deixa-se amar ele próprio como é, ele o discípulo que ama Deus, que ama mas ainda não está apaixonado.

A nossa quaresma é bem sucedida, uma super quaresma? Um falhanço? Deus sabe-o por nós. A nossa vida cristã, o nosso caminho, a nossa quaresma é de qualquer modo um «Deus saberá», um «Deus sabe onde». Abandonemos hoje toda a presunção de nos colocarnos sobre uma qualquer escala espiritual no nosso amor por ele. Não seremos nós a ir a ele, mas ele que vem até nós.

Pedro, tu amas-me? Sim, senhor, eu sei bem que tu me amas

sexta-feira, 6 de março de 2009

Retiro na cidade- 07 de Março


Foto de http://www.revistaportuária.com.br/


A Palavra de Deus

24Em verdade, em verdade vos digo: se o grão de trigo, lançado à terra, não morrer, fica ele só; mas, se morrer, dá muito fruto. João, 12, 24 (Bíblia dos Capuchinhos)




Correr riscos e a esperança cristã




A meditação


Completar o que começámos, eis o que nem sempre está ao nosso alcance. Por vezes os nossos compromissos saldam-se em puros e simples fracassos… A paróquia em que investimos pode envelhecer, o projecto profissional que mobilizava as nossas forças pode descarrilar, aqueles em quem depositávamos confiança podem cruelmente nos decepcionar.


No entanto, qualquer que seja o resultado dos nossos compromissos, o que temos feito, dado e recebido, nunca é em vão. Será que ao assumirmos os riscos que temos tido, não tenhamos nós já aprendido onde encontrar a nossa verdadeira felicidade? É que apesar de podermos atingi-los imediatamente, nós aprendemos já a olhar na direcção certa: em direcção ao reino de Deus.


Deste reino, Deus é o rei. Ele é também o seu principal agente, e é pela relação com Ele que os nossos sucessos e os nossos fracassos fazem sentido. O verdadeiro centro das nossas vidas, então nós vemos isso, é o Espírito de Deus, que imprime em nós a esperança do Reino que virá. Este Espírito santifica os nossos corações e nos assegura que tudo o que façamos contribui já para fazer acontecer o Reino, tanto os nossos sucessos como os fracassos.


É ele, e só ele, que alcançará dar um sentido aos riscos que tomámos. Cheios desta esperança que ele nos dá, nós sentimos uma certa segurança propagar-se na nossa alma: ela dá-nos a força para esquecermos o caminho já percorrido, a boa ou a parte má, e para continuarmos a ir em frente.

quinta-feira, 5 de março de 2009

Retiro na cidade- 06 de Março


Foto retirada da net
Arriscar e suportar o imprevisto
A palavra de Deus

«Vinde a mim, todos os que estais cansados e oprimidos, que Eu hei-de aliviar-vos. 29Tomai sobre vós o meu jugo e aprendei de mim, porque sou manso e humilde de coração e encontrareis descanso para o vosso espírito. 30Pois o meu jugo é suave e o meu fardo é leve.» Mateus 11, 28-30 (Bíblia do Capuchinhos)

A meditação


Todos sabemos que a vida quotidiana é uma prova de fundo. As dificuldades podem a pouco e pouco fazer-nos esquecer o porquê de estamos empenhados neste ou naquele caminho: “Que faço eu aqui?”, arriscamo-nos a perguntar-nos um dia, quer sejamos um religioso no seu compromisso, um empregado no seu trabalho, um esposo no seu casal…

Cristo não quis que esquecêssemos a beleza dos riscos que tomamos ao querer transportar o fruto. Por isso nos ensinou, tanto em palavras como em actos, a perfeição da caridade. Se os obstáculos nos entristecem a alma, a paciência estará lá para curar a nossa fraqueza. Se nos empurram para a cólera, a doçura nos dará a paz. Se somos tomados pelo ódio, a humildade será o nosso baluarte, e se o desejo de vingança nos assola, poremos a nossa esperança na justiça.


Esta paciência, esta doçura, esta caridade que o Espírito de consolação gosta de meter no nosso coração nos momentos de prova, ensina-nos a grandeza da nosso vocação. Seja qual for o resultado dos riscos que assumimos, através de uma certa perfeição da caridade, aprendida dia após dia na escola do Cristo, nós gozamos já as primícias da vida eterna. Possa o Senhor não cessar de a renovar no nosso coração

quarta-feira, 4 de março de 2009

Retiro na cidade- 05 de Março


Correr riscos e moderar a audácia


A Palavra de Deus

31Ou qual é o rei que parte para a guerra contra outro rei e não se senta primeiro para examinar se lhe é possível com dez mil homens opor-se àquele que vem contra ele com vinte mil? 32Se não pode, estando o outro ainda longe, manda-lhe embaixadores a pedir a paz. Lucas 14, 31 (bíblia dos Capuchinhos)

A meditação


Um obstáculo, não é apenas o que nos faz parar : pode ser qualquer coisa que nos estimula, porque há em nós uma ímpeto que instintivamente nos empurra a enfrentar os obstáculos: a audácia. A audácia, é o gosto do risco, o gosto da aventura, o espírito de iniciativa… Esta audácia natural, é por exemplo o que empurra qualquer um a tudo deixar para viver o que o apaixona.


Para quem se quer lançar á conquista do Reino de Deus, e que sabe que isso implica arriscar-se, a audácia é primordial: como é preciso audácia a uma ordem religiosa para fundar um convento numa cidade, para trabalhar para montar a sua própria empresa, a um casal para acolher crianças -a qualquer um em mais cem outras circunstâncias.


A audácia é uma coisa boa e necessária, mas a sabedoria convida-nos a num justo meio termo. Que ela não se torne temerária nem inconsciente! Um sábio diria que agir prontamente, não é agir precipitadamente: a acção pronta é louvável, desde que a reflexão a preceda e que ela seja acompanhada de numerosos conselhos; mas agir precipitadamente, sem nos formarmos ou informarmos, sem sabermos onde vamos e até onde poderemos ir, não seria pecado por precipitação e imprudência? Que o Senhor me ajude a ter audácia, uma audácia verdadeira: uma audácia ardente, mas também justa e verdadeira, medida e duradoura!

terça-feira, 3 de março de 2009

Retiro na cidade-04 de Março


Foto de Ana Loura: A magnífica Capela Sistina
Tradução da proposta de meditação quaresmal dos Dominicanos de Lille em http://www.retraitedanslaville.org/

“Arriscar e ser generoso”

A palavra de Deus
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Dai e ser-vos-á dado: uma boa medida, cheia, recalcada, transbordante será lançada no vosso regaço. A medida que usardes com os outros será usada convosco.» Lucas 6, 38 (Bíblia dos Capuchinhos)
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A meditação
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A generosidade ! Nos tempos que correm temos pouco costume de falarmos na generosidade como uma das principais virtudes. A generosidade, é uma certa grandeza de alma. Antigamente para a designar, falávamos de “magnificência”. Ser magnificente, é querer realizar coisas grandes: é não olhar à despesa quando queremos ser generosos.
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Quando a ocasião o pede, a pessoa generosa faz as coisas magnificamente: nas celebração de um casamento ou de uma festa, por exemplo, ou nas construção de uma casa. Um esposo generoso quer a pureza e a sinceridade do amor conjugal. Um cristão generoso quer conceder o perdão àqueles que lhe fizeram mal.
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O que o homem verdadeiramente generoso procura como prioridade, não é ele próprio. Ele não desdenha o seu próprio bem-estar, é certo, mas ele procura também alguma coisa ainda maior que ele próprio: o bem da sua família, dos que lhe estão próximos, dos seus concidadãos, de todos aqueles que poderá ajudar, próximos ou longínquos. Ele vai mesmo até querer o bem do seu Deus! Ele coloca a sua honra ao fazer coisas belas porque ele quer amar com grandiosidade e generosidade.
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Na generosidade cristã, há como que um tentar transbordar na busca do que é apenas simplesmente grande e belo. É um aspecto da busca da santidade, que bane o medo e a mesquinhez, nos impele a correr riscos e a querer dar frutos. Não tenhamos medo de sermos magnificentes na nossa vida segundo o Evangelho

segunda-feira, 2 de março de 2009

Retiro na cidade- 03 de Março


Foto de Ana Loura
Tradução da proposta de retiro quaresmal para o dia 03 de Março em: http://www.retraitedanslaville.org/spip.php?sommaire&date=2009-03-03


"Arriscar-se e não ter medo"


A palavra de Deus
14Vós sois a luz do mundo. Não se pode esconder uma cidade situada sobre um monte; 15nem se acende a candeia para a colocar debaixo do alqueire, mas sim em cima do candelabro, e assim alumia a todos os que estão em casa. 16Assim brilhe a vossa luz diante dos homens, de modo que, vendo as vossas boas obras, glorifiquem o vosso Pai, que está no Céu.»

(Mateus, 5, 14-16 Bíblia dos Capuchinhos)


A meditação


O amor de Deus, o amor do bem que está em nós, queremos espalhá-lo à nossa volta: a glória de Deus, é que nós produzamos frutos.


Mas o pecado pode impedir ou distorcer o ímpeto profundo do nosso coração: podemos ter medo! Nós podemos ter medo de perder dinheiro por aquilo que é incerto, nós podemos ter medo de nos confrontar-nos com o que pensam as pessoas, nós podemos ter medo de todas as dificuldades imagináveis?


Frequentemente, então, no momento em que temos vontade de nos arriscarmos em fazermos o bem e avançar, nós sentimos também a timidez que nos assola: à força de imaginarmos o pior, é grande a tentação de permanecermos escondidos!


O medo em si não é mau: pode contribuir para nos ensinar as virtudes da coragem e da prudência. No entanto, que ele não nos faça titubear ao ponto de arrefecer o ímpeto do Espírito Santo! Nós devemos também aprender a temperar os receios, temos de ter constantemente desperta em nós a esperança de dar frutos para o Reino. Deus, ele próprio, nos assegura: «vós sois a luz do mundo»

Retiro na cidade- 2 de Março



Foto de Ana Loura
retiro quaresmal proposto pelos Dominicanos de Lille em: http://www.retraitedanslaville.org/


Correr riscos e converter-se



A Palavra de Deus


17Quando se punha a caminho, alguém correu para Ele e ajoelhou-se, perguntando: «Bom Mestre, que devo fazer para alcançar a vida eterna?» 18Jesus disse: «Porque me chamas bom? Ninguém é bom senão um só: Deus. 19Sabes os mandamentos: Não mates, não cometas adultério, não roubes, não levantes falso testemunho, não defraudes, honra teu pai e tua mãe.»20Ele respondeu: «Mestre, tenho cumprido tudo isso desde a minha juventude.» 21Jesus, fitando nele o olhar, sentiu afeição por ele e disse: «Falta-te apenas uma coisa: vai, vende tudo o que tens, dá o dinheiro aos pobres e terás um tesouro no Céu; depois, vem e segue-me.» (Marcos 10, 17-21 Bíblia dos Capuchinhos)


A meditação


Este jovem pergunta a Deus como fazer para ser feliz e ter a vida eterna. Então, a chave da felicidade, não é aquilo a que acordamos chamar de sabedoria? E a sabedoria não exige de nós que ajamos segundo a verdade e que sejamos justos nas nossas relações com os outros? É assim que Deus relembra primeiro ao jovem os dez mandamentos e o aconselha em seguida a dar as suas riquezas aos pobres.


Mas convertermo-nos à sabedoria não acontece sem obstáculos. Nós podemos ser tentados por coisas que nos seduzem sem razão. Nós podemos sentir repulsa em querer o que é justo, mais difícil, parece-nos demasiado custoso. É aqui que Deus nos chama a sermos fortes e a convertermo-nos apesar de tudo: a correr o belo risco de agirmos com rectidão mesmo quando vacilamos ainda em ver o que é bom, mesmo quando verdadeiros obstáculos cobrem a estrada da nossa felicidade.




Mas sobretudo, face a todas as dificuldades, não esqueçamos o que Deus nos diz: «vem e segue-me». Saibamos que é exactamente ele quem nos abrirá o caminho, uma vez que tenhamos dado o primeiro passo

Retiro na cidade- 01 de Março

Imagem retirada da net
Tradução da proposta de meditação para o retiro quaresmal do Dominicanos de Lile:
Correr risco em nome do Evangelho

A Palavra de Deus

12Em seguida, o Espírito impeliu-o para o deserto. 13E ficou no deserto quarenta dias. Era tentado por Satanás, estava entre as feras e os anjos serviam-no. 14Depois de João ter sido preso, Jesus foi para a Galileia, e proclamava o Evangelho de Deus, 15dizendo: «Completou-se o tempo e o Reino de Deus está próximo: arrependei-vos e acreditai no Evangelho.» (Marcos, 1, 12-15 Bíblia dos Capuchinhos)


A meditação

Para quem caminha na fé, para quem caminha em direcção à fé, os quarenta dias da quaresma são um tempo importante. Eles recordam-nos os quarenta dias que Jesus passou, por nós, no deserto há dois mil anos: foi lá que o Filho de Deus, enviado por Deus para nos salvar, começou a pregar o reino dos Céus, e é lá que também nós nos queremos encontrar para começarmos esta quaresma e recordarmo-nos daquele que nos salvou: Jesus Cristo, o Filho de Deus que disse: “Completou-se o tempo: o reino de Deus está próximo. Convertei-vos e acreditai na Boa Nova!».
Se o Filho de Deus veio para nos salvar, é porque nós estávamos perdidos no deserto. No princípio não existia com efeito nem deserto, nem apelo à conversão. Havia simplesmente o reino de Deus e o que Deus tinha preparado para nós.


No princípio, diz a palavra de Deus, Deus havia-nos criado «à sua imagem». Dando-nos um coração capaz de compreender e de querer, de reflectir e de amar, deu-nos muito mais do que deu à maioria das criaturas: Deu à nossa vida um sentido de cujo culminar seria Ele próprio. Em vez do deserto havia o paraíso. Quando olhamos uma paisagem magnífica, por exemplo, somos arrebatados pela glória que se revela na criação, isso não é estar no paraíso? Não é estar no paraíso, quando fazendo o bem à nossa volta, quando descobrimos o prazer infinito e a infinita felicidade que há em se ser bom? É assim que Deus nos queria semelhante a ele, na liberdade e no amor.


No princípio, Deus queria ser o sentido das nossas vidas, o que lhes dá o verdadeiro sabor. Ele queria que a nossa alma fosse cheia do conhecimento do que é belo, verdadeiro e bom. Dia após dia, ele queria tornar bela a nossa vida, até que estivessemos completamente transfigurados, que nos assemelhássemos perfeitamente a ele: ele aspirava a ouvir um dia esse grito de alegria saltar livremente do nosso coração, da nossa inteligência e da nossa vontade: “Tu sabes bem que te amo!”
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Mas, de uma forma ou de outra nós sabemo-lo bem: também desde o princípio, desde Adão, o pecado entrou no mundo, e nós deixámos o paraíso. O pecado: não é a repugnância de colocar a nossa inteligência e a nossa vontade ao serviço de Deus, assim como ao serviço dos irmãos? Desde essa altura, desde que nós nos tornámos lentos a entender e a amar Deus, o coração que Deus nos tinha dado para conhecer a felicidade foi como que estragado, destituído do seu esplendor inicial


Talvez façamos mal em no lo negarmos, mas não nos falta reconhecer a doença de que sofremos: esta languidez, este torpor que sofre a nossa vida de fé? Será que não estamos a sofrer de cegueira espiritual? Ficamos agradecidos pelo que Deus preparou para nós? Contemplar e amar Deus, servi-lo, eis o que deveria fazer-nos profundamente felizes, mas atingidos pelo pecado, só muito dificilmente discernimos o que Deus quer e o que ele é: em vez do bem, nós somos levados a discernir o mal, em vez da felicidade a infelicidade.


É deste coração ferido, destes entraves a contemplar e a amar, que o Evangelho nos fala como de um deserto. O paraíso que Deus tinha preparado para nós criando-nos tais como no fundo somos, este paraíso tornou-se pouco a pouco um deserto povoado por animais selvagens, um lugar de solidão, de perdição e de desespero.
Assim é necessário que Deus intervenha de novo na nossa história, que ele se afunde nas areias sem fim, que ele nos faça redescobrir sobre a terra e no mais íntimo de nós, na nossa alma, no nosso coração, o paraíso que perdemos e ao qual nós estávamos portanto prometidos: o sentido da nossa vida, o Reino dos Céus.


É por isto que Deus nos deu o seu Filho, Jesus : para que ele nos ensine o caminho da verdadeira felicidade, da beatitude e da caridade, e que ele cure assim a nossa inteligência da obscuridade e do pecado. É para isso também que ele nos deu o seu Espírito Santo, o Paráclito: para que ele console a nossa vontade do que a aflige, e a purifique também do lixo que ela tem.
E finalmente, Deus foi ainda mais longe: morrer por amor por nós, e este sacrifício salvou-nos definitivamente. É na cruz que o nosso coração encontra enfim o seu repouso salutar: contemplar de rosto descoberto a perfeição do amor e do perdão divinos!


Revelando-nos através de Jesus o rosto do Pai e ressuscitando Jesus, morto por nós no madeiro da Cruz, é a nossa alma, o nosso coração, que Deus ressuscitou: fez reflorir a nossa inteligência e a nossa vontade, ele fecundou o deserto onde nós vivíamos como que desfigurados pelo pecado. Ele fez brilhar em nós o amor do Pai. E agora que pode ele esperar de nós? Simplesmente que arrisquemos entrar novamente nesse mundo para onde levaremos um fruto que permanece.
Ele apenas espera que assumamos o risco de partir à conquista do reino que ele nos franqueia e nos oferece, onde a sua graça nos precede e onde ele nos espera.

domingo, 1 de março de 2009

Retiro na cidade-28 de Fevereiro

Imagem tirada da net
Tradução da reflexão do Retiro dos Dominicanos de Lille no site: http://www.retraitedanslaville.org/
«Seja feita a Vossa vontade»
A Palavra de Deus
Já te foi revelado, ó homem, o que é bom, o que o Senhor requer de ti: nada mais do que praticares a justiça, amares a lealdade e andares humildemente diante do teu Deus.Miqueias, 6, 8 (Bíblia dos Capuchinhos)

A meditação
O terceiro pedido que nós endereçamos ao Pai é: «Seja feita a vossa vontade assim na terra como no Céu». A vontade de Deus não se nos impõe, nunca, compete-nos mais descobrir esta vontade que se exerce na nossa vida como um apelo, como uma corrente que nos orienta.
E este querer, é primeiro um desejo, um desejo amoroso que nós temos de reconhecer na pele e à medida em que o realizamos em obra na nossa vida. Ele não existe á priori , ou desde sempre, ele é-nos manifestado na media em que nós orientamos a vida no sentido do Evangelho. Trata-se exactamente de nos metermos no bom sentido deste desejo de Deus, do querer de Deus vindo modelar o nosso próprio querer. Este conhecimento íntimo do desejo de Deus resulta completamente da união com o Pai. Ele é-nos necessário para progressivamente entrarmos em comunhão com ele.
Esta comunhão é o fruto do Espírito Santo que nos é dado pelo Pai e pelo Filho para entramos na dinâmica do seu desejo. Este desejo procede do amor que os une, e não será este amor que é o segredo da vida de Deus no seio da Trindade, como é o último segredo que nos entrega Jesus na véspera da Paixão? «Como o Pai me amou, também eu vos amei»?O Espírito Santo liga o meu coração ao coração de Deus, e o meu coração aprende a bater ao mesmo ritmo que o coração de Deus. Realizar a justiça, amar a bondade, caminhar humildemente com o teu Deus, é exactamente o caminho que seguimos na viagem empreendida depois do nosso baptismo.