terça-feira, 14 de abril de 2009

O protagonismo feminino nas narrativas da Ressurreição


De Cipriano Pacheco, Vigário Episcopal em S Miguel


O protagonismo feminino nas narrativas da Ressurreição

Ao contrário do que se levou a pensar durante muito tempo, um dos dados mais inovadores introduzidos pelo movimento cristão nos seus inícios, teve a ver com o lugar das mulheres nas primitivas comunidades cristãs.
O protagonismo feminino está bem patente nas narrativas da Ressurreição de Jesus. Quem prestar atenção aos textos evangélicos próprios da celebração da Páscoa pode aperceber-se disso sem grande dificuldade.
Estamos perante um facto tanto mais notável quanto se conhece o estatuto social e religioso da mulher no país e no tempo de Jesus, em que chegava a ser considerada dispensada de conhecimento aprofundado da Lei, ao mesmo tempo em que não era normal haver rabinos que tivessem discípulas. Aí está a razão pela qual não deixa de ser espantosa a presença efectiva e activa de mulheres no movimento de Jesus. Nesta perspectiva, um dos papéis mais relevantes do protagonismo de mulheres situa-se no que respeita ao encontro com o Ressuscitado, esse acontecimento fundador da fé cristã. É num tal contexto que o papel das mulheres como Maria Madalena e suas companheiras é posto claramente em evidência.Sabendo-se que a sepultura de Jesus foi feita à pressa devido à proximidade do dia de Sábado, nem sequer tendo direito aos cuidados habitualmente destinados aos defuntos, eis que, na madrugada do primeiro dia da semana, são aquelas mulheres que se deslocam ao túmulo para prestar ao corpo de Jesus os cuidados a que não tinha tido direito. Longe de pensarem em “ressurreição”, Madalena e as outras mulheres vão preparadas para fazer o que se fazia a um morto, de tal modo que a sua preocupação é saber como deslocar a “pedra” do túmulo. Elas caminham na “noite” e, eis senão quando, para grande espanto seu, encontram a pedra deslocada e o túmulo vazio. É caso para pensar que a Madalena e as companheiras fazem a experiência de mulher amada do Cântico dos Cânticos: “Procurei Aquele que o meu coração ama e não o encontrei” (Cf, 3,2).Diante do inesperado, são aquelas mulheres que partem a levar a notícia do Ressuscitado a Pedro e a outros discípulos de Jesus. Aí está a razão pela qual Madalena será designada, mais tarde, inclusive por Tomás de Aquino, como a “Apóstola dos Apóstolos”. Neste sentido, é bem possível que tenha razão o biblista Carlos Gil Arbiol quando, em entrevista dizia que “nos textos do Novo Testamento, nas primeiras comunidades, as mulheres tiveram um protagonismo que não tiveram em nenhum outro grupo.
Era a aplicação do princípio teológico de que em Cristo, como diz Paulo na Carta aos Gálatas, não há homem nem mulher, nem escravo nem livre, nem judeu nem pagão”, o que leva a protagonizar que, com base em inspiração nas origens do cristianismo, acabará por acontecer na Igreja “um protagonismo maior” da parte das mulheres.