domingo, 25 de novembro de 2007

"Vejo pouca gente da Igreja a defender os direitos humanos" D. Januário Torgal Ferreira - Bispo





"Vejo pouca gente da Igreja a defender os direitos humanos"


joão girão


"Todos os princípios que recebi são de Direita. Só despertei para os ideais de Esquerda aos 20 anos"


O bispo das Forças Armadas, Januário Torgal Ferreira, decidiu que queria ser padre muito cedo, aos sete anos. Entrou no seminário aos 10, de onde só saiu aos 22. Em Maio de 1968 estava em França a estudar filosofia com Paul Ricoeur. Aí viveu tempos intensos de debate social e político, bem como eclesial. Para o prelado, que esteve recentemente em Roma, a Igreja portuguesa tem de mudar. Muito.


JN Antena 1Disse uma vez que uma das tragédias em Portugal era a Igreja ser só da e para a Direita. A Igreja em Portugal não está totalmente aberta?

D. Januário Torgal Ferreira Não, a Igreja em Portugal é totalmente conservadora.

De Direita, portanto.


De Direita nesse sentido. Por isso é que o Papa diz que isto tem de dar uma volta. Pois tem. A mentalidade... Por que é que não se fala do desemprego, da violência contra as mulheres, das purgas contra as crianças, da pouca vergonha instalada na Justiça?

Posso perguntar a um bispo se é de Direita ou de Esquerda?


Costumo dizer eu sei como voto. Venho da Direita. Todos os princípios que recebi são de Direita. Só despertei para os ideais de Esquerda, da justiça social, a partir dos meus 20 anos. São os ideais de justiça social, de solidariedade que competem à Igreja. A Igreja tem coisas fantásticas, de amor, de devoção, de entrega. Mas, não tenhamos medo de dizê-lo: vejo pouca gente da Igreja a defender os direitos humanos. Há, mas pouca.

São os silêncios de que tem vindo a falar?


Sim. Prefiro a ruptura, a discussão. Espero frontalidade, mas, habitualmente, o que se usa é o truque, a hipocrisia.

Viu luz no que o Papa disse aos bispos?


Vi, claro. Ele disse uma coisa muito importante, que é que isto tem que dar uma volta. A Igreja tem de dar uma volta. Também ele, o Papa, em muitas coisas deve dar uma volta.

Que volta? Comecemos pelo Papa antes de falarmos da Igreja portuguesa.


Nós deveríamos ser muito mais escutados por Roma; não deveria haver centralismo. Deveria haver muito mais comunhão. Deveria mudar a apresentação. Deveria haver uma Igreja - não vou advogar que se venda o Vaticano, não sou iconoclasta - diferente na nossa presença, até na forma de vestir, na casa em que habitamos, o carro, o secretário, a corte. Tudo isto deveria mudar. Deveríamos ser muito mais naturais, cidadãos mais próximos e deixar aquilo que vem de outras épocas que não deve ser destruído, mas devemos viver em situações normais.

Seria mais útil?


O próprio Vaticano poderia entregar as coisas que lá tem. Mas eu refiro-me a cada um de nós, bispos, padres. Há pessoas que têm sempre de mudar de carro, comprar o melhor andar... Num país de dois milhões de pobres... A democracia portuguesa está doente. E eu pergunto, a Igreja diz isto? Não diz! Está a ver a mentalidade triste, num apagado e triste país.

O dinheiro da basílica de Fátima bem podia ter sido empregue noutra coisa...
Alguém me disse que a igreja vai nascer do dinheiro dado pelos peregrinos; que é para eles se abrigarem no Inverno e no fim do Verão. Só que acho que no Inverno não há nove mil peregrinos no santuário de Fátima (...). Seria tão exemplar criar novas mentalidades - sem discursos do púlpito, como eu estou aqui a fazer, que é muito fácil - para obras sociais mais necessárias. Privilegiaria crianças ou idosos... Aquilo que acho que falta em Portugal, a partir da Igreja, é humanidade.

Estranhou que o Papa citasse o Vaticano II?


Não, o Papa, no fundo, também cita os bispos.

No Vaticano II, defendeu-se o recurso a métodos artificiais para controlar a reprodução. Essa parte não está no discurso do Papa.
Não, infelizmente não foi aceite pelo Papa Paulo VI.

Para a Igreja, é pecado. Para si, não é?


Para mim, não é. Para mim, é um instrumento de defesa. Para mim, é um elemento promotor da vida, uma forma civilizada e inteligente de proceder.

Acha que a Igreja portuguesa pode dar a volta que o Papa pediu?


Temos pernas para andar. Teremos de ter humildade de executar, de aplicar, às vezes, coisas simples, decisões que se assumem. A Igreja foi conivente com o regime de Salazar, é coisa que a gente tem que dizer. Não é pedir perdão - que pedir perdão é mudar a nossa vida. Mas a Igreja tem responsabilidade, porque a Igreja é, de facto, Jesus Cristo...

Vamos ter de terminar. O senhor escolheu o requiem de Mozart para terminarmos esta conversa. Posso perguntar porquê?
Para mim, a morte faz parte da vida. A morte é a ressurreição que eu gostaria que começasse aqui, na Terra. A ressurreição seria o caminhar mais rápido do caminhar mais lento. Mas tudo o que eu fiz na Terra seria em ordem a derrotar estes fenómenos vergonhosos da morte que nós temos.



Entrevista no Jornal de Notícias



Também gosto muito do Requiem de Mozart e agora fiquei a gostar de D. Januário Torgal Ferreira

quinta-feira, 22 de novembro de 2007

Deus de vivos




"roubei" esta belíssima imagem ao "Padres Inquietos" http://www.padre-inquieto.blogspot.com/


terça-feira, 20 de novembro de 2007

Zaqueu- Quero ver Jesus


Zaqueu e Nicodemos são os meus "herois".


"Engraçado" (este meu engraçado é ssim como o "isto é assim", é recorrente) que eu quando leio ou ouço ler a história de Zaqueu imagino um homem muito pequeno a correr no meio da multidão e a ser acotovelado por uns e outros, aos saltinhos a tentar ver Aquele atrás de quem corriam multidões e ao concluir que nunca veria Aquele que lhe suscitava tanta curiosidade (Apenas curiosidade??? Não creio) viu aquele sicómero não muito mais alto q ele (será igual ao que tenho à porta da minha casa?) trepou a correr, não fosse Aquele homem passar sem que ele O visse e quando Ele pronunciou o seu nome corou atá à raiz dos cabelos, encolheu-se, ficou, ainda, mais pequeno (como seria possível que Aquele a quem chamavam de Mestre e até de Filho de Deus soubesse o seu nome? Que iria Ele dizer?? Que não era digno de sequer subir a uma árvore para O ver?? Os seus olhos desviaram-se do rosto de Jesus, as mãos tremeram-se-lhe agarradas aos ramos e o pé resvalou-lhe tronco abaixo... Jesus falou, vai para casa que Eu hoje quero lá ficar. Peplexo aquele homem baixinho correu com asas nas sandálias que calçavam os seus pés, tropeçou nas vestes ricas compradas com o suor dos seus irmãos, conseguiu manter-se em pé, lágrimas de alegria a lavarem-lhe o rosto. Ele iria ver o rosto de Jesus, saber na primeira pessoa quem era Aquele atrás de quem corriam multidões.


Se ao menos eu fosse um bocadinho como Zaqueu, quizesse, de facto, ver Jesus. Não nas milhares de imagens que fazem/fazemos dele, louro quase sempre, negro muito poucas, mas nos rostos sofridos dos doentes de SIDA, no rosto de TODOS os excluidos e marginalizados, dos que não têm nem direito a terem direito de sobreviver.

sexta-feira, 16 de novembro de 2007

Semana das Missões





Interessante como o conceito de Missão tem evoluido e ainda bem. Antigamente as Missões eram aquelas que levavam os nossos Monjes e Monjas todos frescos, lavados e passados a ferro e os devolviam a eles de barbas até a meio do peito, já esbranquiçada, a péle dos braços e do resto dos rostos e cabeça já calva tisnadas dos soles dos trópicos e com uma pronúncia estranha e elas também tisnadas, mangas dos hábitos arregaçadas e num certo desalinho reflexo de anos a, para além de falerem em palavras sobre Deus, a demonstrarem-no na prática ao ajudarem a nascer, a cuidar, a vacinar, a letrar os povos das áfricas e ásias "pertença" de Portugal e a gente a fazer recolha de escudos nas escolas para as Missões que nem sabiamos o que eram nem onde ficavam.

Agora, para além dessas Missões há-as pertinho de nós nos bairros degradados, nos becos da droga, nas franjas dos excluídos das nossas sociedades de fartura e consumismo e é para aí que se voltam os olhares dos Cristãos. Voltam???? Deveriam voltar e aí fazermos cada vez mais Missão. Os "santos da casa" têm e devem fazer acontece milagres de multiplicação de Pão da palavra e de Pão que alimenta os estômagos enfraquecidos pela miséria muitas das vezes envergonhada e escondida atrás de tabiques. Não basta distribuir a sopa dos pobres, é preciso ir mais longe. O difícil é saber como e encontrar forças para se fazer Missionário de seres sem vontade, sem forças, sem perspectivas de vida.
É sempre a mesma questão de nos dispormos a ser instrumentos de Paz, pois a Paz, a tal que excede todo o entendimento passa por alimento, cuidados básicos de saúde, pela sobrevivência. Não se pode falar de Deus a quem tem fome de tudo.
Abraços fraternos

quinta-feira, 15 de novembro de 2007

"Olhai os lírios do campo"




















As fotografias estão bastante fracas, mas...


Estas flores não serão, certamente, Lírios. Penso que serão da família das orquídeas e nasceram num muro do quintal da casa onde neste momento moro. Assim, sem serem semeadas por mão humana. São lindas! E desabrocharam há coisa de duas semanas quando caiu um aguaceiro. Aliás, só reparei nelas quando no fim do primeiro dia de chuva deste Outono que teima em não chegar fui ao terraço que "serve" o meu quarto.
Confesso que, quando acordei naquele dia, estranhei a pouca claridade, mas nessa altura ainda não a relacionei com a ameaça de chuva. Só quando ouvi um ruido estranho e assomei à janela aqui ao lado do computador onde quase sempre ao acordar e depois das Laudes venho ver se alguém deixou na minha caixa de e-mail alguma coisa que interesse ler no início de mais um dia e vi que afinal não era o meu vizinho de quase em frente a regar o jardim mas sim a primeiríssima chuva .


Quando ao fim da tarde vi o "milagre" destas flores num sítio improvável como o muro lembrei de: Mateus 6-27 e de que o nosso Grupo Coral canta uma lindíssima canção cuja letra se baseia nesta passagem



"Ora, qual de vós, por mais ansioso que esteja, pode acrescentar um côvado à sua estatura?
E pelo que haveis de vestir, por que andais ansiosos? Olhai para os lírios do campo, como crescem; não trabalham nem fiam; contudo vos digo que nem mesmo Salomão em toda a sua glória se vestiu como um deles.
Pois, se Deus assim veste a erva do campo, que hoje existe e amanhã é lançada no forno, quanto mais a vós, homens de pouca fé?
Portanto, não vos inquieteis, dizendo: Que havemos de comer? ou: Que havemos de beber? ou: Com que nos havemos de vestir?
(Pois a todas estas coisas os gentios procuram.) Porque vosso Pai celestial sabe que precisais de tudo isso.
Mas buscai primeiro o seu reino e a sua justiça, e todas estas coisas vos serão acrescentadas.
Não vos inquieteis, pois, pelo dia de amanhã; porque o dia de amanhã cuidará de si mesmo. Basta a cada dia o seu mal."


Hoje passados uns 15 dias reparei que a seca que se instalou está a matar a minha florinha e que Deus precisa da minha mão, que eu me disponha a isso, para que ela não morra como precisou que o Bom Samaritano se dispusesse, também, a ser instrumento para os cuidados ao pobre homem caído espancado na berma da estrada. Reguei a minha flor, que como a rosa do Principezinho é única