segunda-feira, 19 de outubro de 2009

A sabedoria necessária ao exercício do poder

Foto de Ana Loura



A sabedoria necessária ao exercício do poder




De Cipriano Pacheco em Jornal Diário



Precisamente ontem, quando encerravam as urnas das eleições autárquicas, o povo português terminava um ciclo eleitoral importante para o seu presente e para o seu próximo futuro.
Por uma curiosa coincidência, no mesmo dia, os participantes da Liturgia dominical eram confrontados com um episódio bíblico significativo da vida de Salomão, o sucessor do célebre rei David.
Salomão parece ter sido um rei sonhador. Segundo o primeiro Livro dos Reis, quando ele sobe ao trono, Deus ter-lhe-á comunicado em sonho: “Pede-me o que tu queres, que eu te darei”. Então, o jovem rei formula o seu pedido, mais ou menos nestes termos: “Dá-me um coração atento, para que eu saiba governar o teu povo e discernir o bem do mal”.
Que bela oração para todos os que exercem qualquer tipo de poder!
Aí está uma oração que podia ser adoptada por todos quantos foram, nestes últimos actos eleitorais, chamados ao exercício do poder.
Como lembrava, ontem, o Livro da Sabedoria, aquela oração terá agradado a Deus, tendo sido por Ele escolhida, como se pode ver pelas palavras colocadas na boca de Salomão: “orei e foi-me dada a inteligência. Implorei e veio até mim o espírito da sabedoria. Preferi-a aos ceptros e tronos… Com ela, me vieram todos os bens”.
É bem possível que não seja fácil governar bem um povo. Exige uma sabedoria especial, na perspectiva de Salomão. É que, o poder, seja ele qual for, não deixa de ser um lugar de tentação. A experiência das governações humanas mostra-o bem. Até o próprio Jesus Cristo foi confrontado com a tentação do poder, preferindo recusá-lo, mesmo se, agindo assim, acabou perdendo muitos adeptos, que esperavam vê-lo enveredar pelos mesmos caminhos prestigiosos da força, do poder, do sucesso ou da autoridade absoluta.
Acontece que, do ponto de vista bíblico aqui em referência, o segredo de um modo outro de exercício de poder, exige uma sabedoria diferente, tanto mais necessária, quanto os tempos não são fáceis e o factor crise pressiona. Não se trata de uma sabedoria feita de especulações ou de jogos de interesses.
O sábio, biblicamente falando, é aquele que conduz bem a sua vida, procurando encontrar respostas adaptadas aos problemas que lhe são colocados. Para um rei ou para um homem do poder, ser sábio equivale a saber governar o seu reino, o seu país ou o seu povo. Ser sábio, dir-se-ia hoje, é saber colocar o bem comum, como bem de todos, incluindo o bem dos mais diminuídos ou desprotegidos, à frente do interesse pessoal ou do bem dos mais fortes.
Mais do que procurar a conquista do poder a qualquer preço, o desafio deixado a todos os que assumem qualquer tipo de poder é o de se disporem a exercê-lo com a sabedoria capaz de os orientar para a edificação de uma sociedade mais justa e digna, onde haja lugar para todos.
Oxalá que todos os recém-eleitos se abram a uma tal sabedoria.

2009-10-12 06:00:00

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