sexta-feira, 11 de março de 2011

Retiro na cidade - 3




Foto tirada da net

A Palavra de Deus

«Fui abrir a porta ao meu amado, mas virando as costas, o meu amado desapareceu. »
Cântico dos Cânticos 5,6

A meditação
Apanha-me se puderes
Reconheci-o de imediato. Por entre todos aqueles rostos familiares, no salão, estava o meu bem-amado. Ele estava, portanto, lá dentro, quando eu o esperava lá fora. Não o imaginava assim, apesar de tudo. Dentro da sala todos falam, há movimento, atarefam-se. Mas ele não diz nada, ele olha-me, ele sorri. Ele tem o rosto doce dos pobres que nos passam despercebidos na berma do caminho. Ele parece não estar à vontade no meio daquela gente toda.

Eu avanço, ele faz-me um sinal que o siga. Eu hesito, abro caminho, sob olhar desnorteado dos meus amigos. Que lhe deu? Riem-se, espantam-se, mas eu já não tenho tempo. Corro atrás daquele que eu esperava, o Senhor da minha vida. Mas eis que ele avança, franqueia as portas, desce as escadas de dois em dois degraus. Ele esquiva-se pelos obstáculos que entravam a sua rota: canos rotos e água porca estagnada, os vasos escacados, os móveis partidos. «Espera! Tem cuidado: tu vais cair, vais ferir-te nesse labirinto que leva ao fundo de mim!» Mas ele conhece o caminho e ele agora embrenha-se, falta-me o fôlego quando no fundo do caminho, as suas costas, de repente, desaparecem. Já não há luz, mas eu conheço este lugar. A porta estava fechada, mas ele entrou. Conduziu-me exactamente aonde ele queria. E o meu coração arde ao adivinhá-lo ali, tão próximo, tão longe, tão no fundo de mim mesmo. Luz quente e viva que brilha dentro da porta.

Tradução de: http://www.retraitedanslaville.org/spip.php?sommaire&date=2011-03-11

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