quinta-feira, 8 de janeiro de 2009

Em tempos de crise – seguir “um outro caminho”



Em tempos de crise – seguir “um outro caminho”
Em algumas igrejas cristãs, o Natal é celebrado a 6 de Janeiro, o dia em que há algum tempo atrás, os católicos celebravam o chamado “Dia de Reis”, hoje, correspondente ao Domingo da Epifania, celebrado ontem.Como a palavra indica, trata-se da manifestação de Jesus aos estrangeiros, na altura, designados por “Pagãos” em relação aos Judeus. Pode dizer-se que a visita dos Magos ao presépio de Belém é outro modo exprimir o que o Apóstolo Paulo entendeu como a revelação do segredo de Deus manifestado em Jesus, a saber: “Os gentios recebem a mesma herança que os Judeus, pertencem ao mesmo Corpo e beneficiam da mesma Promessa, em Cristo Jesus, por meio do Evangelho”. Aqueles personagens vindos do Oriente são como que a personificação dos que, vindo donde quer que venham, se comportam como verdadeiros crentes, pessoas que procuram Deus caminhando ao Seu encontro. Enquanto para eles, o nascimento de Jesus foi motivo de atracção, para outros, como Herodes e os responsáveis religiosos da altura, foi causa de perturbação e de ameaça. Aqueles Magos, que, ao que parece, não eram propriamente “reis”, vão ser assim designados na tradição cristã, talvez por inspiração do Salmo 71, cantado na Liturgia da Epifania. Ali se fala de um Rei que “governará o Vosso povo com justiça e com os Vossos pobres com equidade”, num tempo em que “florescerá a justiça e uma grande paz até ao fim dos tempos”. A particularidade típica de um tal Rei está em que “atenderá o clamor dos pobres, livrará os aflitos sem protector, terá compaixão dos fracos e dos humildes e aos pobres salvará a vida”.O tom que perpassa o referido Salmo quadra bem com o tempo de crise de que tanto se fala. À sua luz, todos se podem interrogar sobre a questão de saber como no meio de todos este clima de crise, de que modo se vai procurar “salvar a vida dos pobres, aflitos ou sem protecção”? Ou será que bastará tomar medidas apenas para proteger os detentores das grandes fortunas, isto é, os poderosos e os mais fortes? Que caminho seguir?Abordando esta problemática, a economista Manuela Silva, última presidente da Comissão Nacional Justiça e Paz, em entrevista ao Público de 14 de Dezembro, referindo que “nem o modelo socialista soviético está no horizonte, nem este capitalismo globalizado e desregulado”, aponta para a procura de outra saída, na sua opinião, a necessidade de “caminhar para um modelo que valorize a componente democrática”. É bem possível que tenha de ser um caminho em que a preocupação por todos se sobreponha à salvação apenas de alguns. Neste sentido a própria opinião pública precisa de ajustar-se. É que, como diz Manuela Silva: “Há uma certa opinião pública que critica facilmente os desvios das prestações destinadas aos mais pobres e que é complacente com grandes e aproveitamentos menos correctos de riqueza por parte dos não-pobres”. Quem sabe se não seria importante os responsáveis das nações, as instituições e até as Igrejas, tal como os Magos quando informados das intenções perversas de Herodes a respeito do Menino de Belém, em vez de se voltarem para trás pelo mesmo caminho, se dispusessem a enveredar por “um outro caminho”?



In Jornal Diário http://www.jornaldiario.com/

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