domingo, 7 de março de 2010

Retiro na cidade - 12


A Palavra de Deus

27E Eu vos asseguro: Alguns dos que estão aqui presentes não experimentarão a morte, enquanto não virem o Reino de Deus.»
28Uns oito dias depois destas palavras, levando consigo Pedro, João e Tiago, Jesus subiu ao monte para orar. 29Enquanto orava, o aspecto do seu rosto modificou-se, e as suas vestes tornaram-se de uma brancura fulgurante

Evangelho segundo São Lucas 9, 27-29



O segredo do Reino

Jesus faz uma promessa: «Alguns dos que estão aqui presentes não experimentarão a morte, enquanto não virem o Reino de Deus.» E hoje, Jesus manifesta diante dos seus discípulosa sua natureza divina. Pedro pensa que o Reino prometido por Jesus chegou? Ele deseja ficar na montanha, montar tendas, instalar-se na presença de Deus.

Pedro deverá descobrir que o segredo do Reino não está numa manifestação extraordinária, mesmo divina. O véu cai. Jesus está novamente sózinho com os seus discípulos. Eles deverão pôr-se a escutá-lo seguindo-o pelas estradas da Galileia e fazerem silêncio durante algum tempo sobre o que tinham visto. A Transfiguração é dada aos apóstolos para que seja um sustentáculo para os apoiar durante as provas que eles terão de enfrentar durante a Paixão de Jesus. Eles poderão agarrar-se a esta recordação como sustentáculo da sua fé no momento em que tudo lhes parecerá insensato e perdido.

Também nós somos convocados para subirmos à montanha e sermos testemunhas de uma transfiguração. Somos chamados a ver Deus. Pela fé, nós acreditamos que ele dá-se a ver no sacramento da Eucaristia. Poderiamos então ter, como Pedro, a tentação de montar uma tenda e de pararmos alí. Mas, o seguimento de Cristo chama-nos para os caminhos do mundo.

Como os apóstolos, ponhamo-nos à escuta de Jesus quando ele fala no Reino de Deus: «40E o Rei vai dizer-lhes, em resposta: ‘Em verdade vos digo: Sempre que fizestes isto a um destes meus irmãos mais pequeninos, a mim mesmo o fizestes.’ » (Evangelho segundo S. Mateus, cap 25, vers 40). Este Rei dirige-se áqueles que julgou dignos de entrarem no seu Reino. Quem são eles? Aqueles que visitaram os doentes ou os prisioneiros, acolhido os estrangeiros, alimentado e vestido os pobres. Tais são aqueles sobre os quais quer reinar o rei que é Deus.

Certamente não é fácil reconhecer no outro e em si mesmo a imagem de Deus, pois ela está bem longe de ser resplandescente, da brancura luminosa que os apóstolos viram no cimo da montanha. Como ver a semelhança divina, quando o corpo está deteriorado pela idade ou pela doença, quando nos sentimos estrangeiros na nossa própria existência? Quando os nossos próximos são os nossos algozes quando deveriam ser contrabandistas do amor? Quando entre irmãos, nos afastamos, quando o ódio divide um país, quando matamos em nome da religião? Mas é esta a humanidade que Deus ama e que ele nos convida a amar com ele e como ele, para além da aparência, para que o seu reino aconteça. Seremos nós capazes de remover o véu da miséria e do nosso olhar deformado pelo pecado?

A bem-aventurada Teresa de Calcutá propõe-nos um caminho: o da oração. Segundo ela, «a oração profunda alarga o coração, levanta o véu que nos obscurece os olhos para que contemplemos Cristo em todos os rostos que nos são oferecidos e olhemos o mundo com olhar que ama. É conhecendo Jesus na oração que O reconhecemos nos corpos dos maltratados e dos mendigos. Não existe oração sem silêncio para que Deus possa entender-se com as almas. Exterior, silêncio vem purificar os nossos olhos, a nossa boca, os nossos ouvidos, todos os nossos sentidos. Interior, ele é apaziguador do coração e do espírito que conduz ao esquecimento de si, à aprendizagem da verdade e à união íntima com Deus.»



Tradução de: http://www.retraitedanslaville.org/spip.php?sommaire&date=2010-02-28

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